A Terapia Assistida por Animais (TAA) foi o foco central de debate da Comissão de Proteção e Bem-Estar dos Animais, em reunião na noite dessa segunda-feira (2). O colegiado recebeu a presidente do Grupo de Humanização do Hospital Santa Rita, Karla Souza, e ouviu também Jamili Abib Lima Saad, tutora do cão “terapeuta” Frederico Alfredo; Léa Regina Penedo Gonçalves, diretora da Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc); e Daniele Soares, adestradora de animais.
A TAA é um trabalho focado na humanização do tratamento de pacientes internados e consiste na visita assistida de cães – treinados e higienizados para isso – a pessoas que estejam em condições de receber a visita dos animais nos hospitais.
Tutora do “cão terapeuta” Frederico Alfredo, Jamili Saad destacou a importância para todos os envolvidos nesse trabalho, mas alertou para os cuidados necessários para que um cachorro atue nessa assistência.
“É preciso querer ser voluntário e ter características de um animal dócil, ter laudo de médico veterinário, atestando que o animal tem condições para esse atendimento, ser higienizado, vacinado, vermifugado, estar com a saúde em dia e também é necessário adequar o calendário de visitas com as datas de banhos dos animais, tudo com controle para evitar qualquer tipo de contaminação”, explicou Jamili.
Quinzenalmente, o chihuahua é levado ao Santa Rita para alegrar pacientes e também colaboradores do hospital. O cãozinho Frederico Alfredo também realiza visitas no Vitória Apart Hospital e tem atuado, ainda, em alguns locais corporativos, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), com o objetivo de diminuir as tensões no ambiente organizacional. Para Jamili Saad, esse é o “melhor trabalho do mundo”, por levar bem-estar aos pacientes, famílias, colaboradores e também ao animal e seus tutores.
Foco na vida
Karla Souza concordou quanto aos benefícios da Terapia Assistida por Animais. A assistente social do Santa Rita pontuou que os atendimentos no hospital são pautados na política nacional de humanização. “Quando a gente proporciona para um paciente que está internado a visita de um cão, de um pet, a gente aproxima esse paciente do mundo externo, faz ele perder um pouco do foco na internação, na doença, para poder focar na vida novamente”, disse.
Ela contou que, a partir do trabalho com o chihuahua Frederico Alfredo, o Santa Rita deu início a um outro projeto: o “Protocolo de Visita Pet”. A iniciativa permite que alguns pacientes internados recebam a visita de seus próprios animais. Os dois projetos seguem rigorosamente condições sanitárias para garantir o bem-estar aos internados, sem levar nenhum risco para eles.
O próximo passo agora é a realização de estudos científicos que comprovem a eficácia dessa iniciativa complementar para a saúde dos pacientes internados. Karla Souza relatou que a intenção é verificar, com estudos criteriosos, os benefícios que a terapia assistida por animais traz aos pacientes e ao ambiente hospitalar, com diminuição dos quadros de irritação, ansiedade, depressão e melhoras gerais no quadro das pessoas envolvidas nos projetos “Cão Terapeuta” e “Protocolo Visita Pet”.
“Tem pacientes que, em função da doença, do diagnóstico e até do tratamento chegam nervosos, irritados… as visitas ajudam até a quebrar essas barreiras entre os internados e a equipe, dando mais acesso e melhorando a comunicação dos profissionais com os pacientes”, avaliou a assistente social.
Para a diretora de Relações Internacionais da Afecc, Léa Regina Penedo Gonçalves, a busca por processos de humanização tem sido uma constante no Santa Rita. A unidade hospitalar atende cerca de 70% a 80% dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a diretora lembrou que a maior parte dos protocolos de humanização implementados no Santa Rita é direcionado justamente para esses pacientes.
A diretora reforçou também os cuidados que o hospital adota para garantir que não haja nenhum tipo de problema. “O cão traz alegria, mas a infecção hospitalar é algo muito sério e somos extremamente exigentes e atentos com todas as regras para evitar o problema. Então não são todos os cães e todos os tutores que se adaptam às nossas exigências de vigilância sanitária”, ponderou. Para ampliar o projeto internamente, a diretora informou que o hospital está com processo aberto para escolha de novos voluntários caninos e humanos.
Crianças com autismo
Outro tema abordado no evento foi o adestramento de cães de serviço para acompanhamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Daniele Soares, adestradora e tutora das cadelas de serviço Lizzi e Akira, explicou que os cães são treinados, por exemplo, para se antecipar e interromper as crises nervosas que algumas crianças com TEA têm. Uma das técnicas desenvolvidas com os animais é eles ficarem junto às crianças com as patas sobre as pernas de quem está em crise, o que acaba acalmando a situação.
A presidente da Comissão de Proteção e Bem-Estar Animal, deputada Janete de Sá (PSB), agradeceu aos envolvidos nos projetos e ressaltou a importância das iniciativas apresentadas durante a reunião, com o amor que os cães dão aos pacientes, auxiliando tanto os hospitalizados e melhorando o ambiente hospitalar. “A presença de um cão terapeuta em um ambiente hospitalar é mais do que uma simples visita; é uma verdadeira injeção de alegria e uma poderosa fonte de cura emocional”, avalia Janete.
Mas a parlamentar lembrou que não pode ser qualquer animal: “Tem de ser bonzinho, ir no colo de todos, ser obediente, dócil, manso, bem treinado. Tem de ter aptidão para esse trabalho tão importante”, destacou.
“Já passamos por tantas reuniões difíceis, principalmente na CPI dos Maus-Tratos contra animais, mas hoje essa é uma reunião feliz, engrandecedora em que a gente vê vida, emoção e positividade”, comemorou a parlamentar. Janete afirmou que a comissão vai analisar possibilidades de auxiliar o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos projetos por meio de propostas legislativas, emendas parlamentares ou indicações ao Poder Executivo.