Dois moradores em situação de rua de Vitória, socialmente invisíveis por viverem há anos sem qualquer documento de identidade, tiveram suas histórias resgatadas graças ao trabalho conjunto do Abrigo para Pessoas em Situação de Rua (Abrigo PSR) e da Divisão de Promoção Social (DPS) da Polícia Civil do Espírito Santo. A ação, considerada inédita e pioneira, devolveu a cidadania a essas pessoas, permitindo o acesso a direitos e serviços.
A ação foi batizada de “Operação Quem é Ele(a)” e emocionou os profissionais envolvidos. A assistente social Aline Rocha, que atua no Abrigo PSR, conta que a busca pela identidade dos dois munícipes já se arrastava há anos. Após esgotar todos os recursos tradicionais — como Ministério Público e Defensoria Pública — a equipe recorreu à Divisão de Promoção Social, última esperança para resolver o caso.
Foi por meio do sistema de registro digital da Polícia Civil que a identidade dos dois pôde ser resgatada. Um homem de 58 anos, conhecido como Carlos Alberto, foi identificado como João Batista, nascido em Barra de São Francisco. Segundo Aline, João perdeu a memória após ser picado por uma cobra enquanto trabalhava na construção civil. Sem documentos e lembranças, acabou vivendo nas ruas.
O segundo caso envolvia uma mulher chamada informalmente de Claudinha Vicenti, nome dado pela vizinhança do terreno baldio onde viveu por anos. Com transtornos mentais, ela também não tinha documentos ou registros oficiais. A partir de suas digitais, a equipe descobriu que seu nome verdadeiro é Maria.
“Foi uma conquista imensa. A partir do momento em que conseguimos encontrar os registros de nascimento, demos início ao processo de emissão dos documentos pessoais, o que permitirá a ambos acessar benefícios e serviços para retomar a vida com mais autonomia”, explicou Aline.
A secretária de Assistência Social de Vitória, Soraya Mannato, destacou o empenho dos profissionais do Sistema Único da Assistência Social (Suas) e do Sistema Alimentar e Nutricional (SAN) na transformação de vidas por meio do acesso aos direitos sociais.
“Temos muito orgulho do trabalho feito nos nossos serviços socioassistenciais. Sabemos que a política da assistência social sozinha não dá conta de todos os desafios, e é por isso que buscamos a integração com outras políticas e instituições. Esse caso mostra a importância e a força dessas parcerias”, afirmou.
A identificação de João Batista e Maria é um passo simbólico e prático na luta contra a invisibilidade social de pessoas em situação de rua. Agora reconhecidos oficialmente, eles poderão acessar programas de assistência, saúde, previdência e reconstruir suas histórias com dignidade.