SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As bases do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul contemplam o setor automotivo, mas, por enquanto, trata-se de uma via de mão única.
Os carros europeus devem ter isenções de tarifas de importação para chegar aos mercados sul-americanos envolvidos, mas não se espera que carros feitos na região sejam enviados para a Europa. Dessa forma, a discussão permanece nos mesmos moldes atuais, girando em torno de questões tributárias.
No caso do Brasil, que tem um parque fabril robusto, há salvaguardas que evitam que a chegada dos modelos europeus prejudique a produção local e coloque empregos em risco.
Entretanto, isso só seria problema caso as empresas resolvessem trazer modelos de menor valor agregado, que são justamente os carros feitos no mercado nacional e na Argentina.
Hoje, os automóveis europeus que chegam ao Brasil concorrem em faixas de preço superiores a R$ 300 mil. É um mercado pequeno, que envolve cerca de 50 mil emplacamentos por ano.
Em relação aos produtos feitos no Brasil, não haveria sentido exportá-los para a Europa. Além da necessidade de ajustar os padrões de construção e de segurança, os produtos nacionais são de menor valor agregado.
Por exemplo, a Volkswagen não tem motivos para enviar um Polo nacional à Alemanha, já que o modelo também é produzido lá. Se isso ocorresse, o temor de fechamento de fábricas que assombra os sindicatos poderia gerar uma onda de protestos jamais vista.
Portanto, no que diz respeito à indústria automotiva, quem tem mais a ganhar com as bases atuais do acordo é a União Europeia. Já o maior perdedor deve ser a China.
Enquanto os produtos de marcas como BYD e GWM serão taxados em 35%, modelos europeus podem chegar com isenção de tributos. Mesmo a futura produção local pode ser insuficiente para compensar a defasagem tributária sobre os importados.
Dessa forma, o acordo tende a favorecer empresas europeias que já operam no Brasil, mas que dependem da importação de veículos e tecnologias para eletrificação desenvolvidas nas matrizes.
Há ainda uma expectativa pela adoção na UE de soluções que envolvem biocombustíveis, setor em que o Brasil é referência global. Não passa de uma possibilidade que carece de estudos, mas a rejeição por modelos 100% elétricos por parte dos consumidores pode levar à revisão de legislações que restrigem os motores a combustão.