MONTEVIDÉU, URUGUAI (FOLHAPRESS) – O chanceler do Uruguai, Omar Paganini, afirmou na tarde desta quinta (5) que o acordo com a União Europeia está praticamente pronto. “Faltam detalhes, amanhã devemos dar a boa notícia.”
O ministro falava minutos após o fim de uma reunião da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o presidente Luis Lacalle Pou na sede do Executivo uruguaio.
Montevidéu sedia a cúpula de líderes do Mercosul, e a alemã chegou à capital na manhã desta quinta-feira após suspense sobre sua agenda.
“Amanhã podemos fechar o texto final do acordo, os líderes poderão dar a decisão final. Depois há um processo de revisão que leva tempo”, seguiu Paganini. “O valor do acordo é econômico e também político, em um mundo cada vez mais fragmentado.”
Mais cedo, o atual ponto de tensão no Mercosul, a Argentina de Javier Milei, se posicionou sobre o tema, mas diminuindo a importância do acordo.
O chanceler argentino, Gerardo Werthein, manifestou que apoia o acordo de livre-comércio do bloco com a UE, mas quer em troca uma maior flexibilização do grupo sul-americano.
“Para nós, esse acordo [com a UE] não é determinante, mas a Argentina privilegia o interesse de todos os sócios, ainda que isso contenha certas coisas que não nos contemplam”, disse o chanceler argentino, em uma reunião fechada com seus pares.
“Por isso também queremos que olhem as necessidades argentinas, e por isso nos parece muito relevante uma maior flexibilidade na agenda externa para acordos”, seguiu ele, que recém-assumiu o cargo após a saída da antiga chanceler, a economista Diana Mondino.
O governo Milei tem pleiteado abertura do bloco para que os países possam fazer acordos de livre-comércio por fora. Quando Donald Trump foi eleito nos Estados Unidos, Milei, seu admirador, disse que deseja buscar um acordo de livre-comércio com Washington.
“Na Argentina, precisamos importar mais, e importar em condições competitivas, o Mercosul não pode ser como um espartilho para países que, como nós, necessitam dar às pessoas uma saída para a pobreza. O mercado externo é fundamental.”
A taxa de pobreza na Argentina se aproximou de 53% no início do governo Milei, que nos próximos dias completa um ano de gestão. Werthein afirmou que o governo tem avançado no combate à desigualdade social.
A posição argentina faz brilhar os olhos de Luis Lacalle Pou, o presidente do Uruguai que pleiteou abertura para acordos em busca de um mercado comum com a China e viu forte oposição do Brasil.
Mas esta é a última cúpula do centro-direitista, e o aceno de Milei, alguém com quem Lacalle teve relação pragmática mas demonstra fortes discordâncias, não deve ter respaldo de Montevidéu.
“Depois de fechado o acordo [em 2019, quando o processo foi travado devido à agenda negacionista do governo Bolsonaro], a UE exigiu um termo adicional ambiental [a chamada side letter] sem consultar o Mercosul, o que gerou tensões e exigiu firmeza da nossa parte. Deu certo”, disse também nesta quinta o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), um dos vice-presidentes do Parlamento do Mercosul.
Espera-se que o anúncio seja feito às 10h de Brasília desta sexta-feira.