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As origens de Luiz Henrique: emoção com 1º McLanche Feliz e quase um judoca

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - A subida é íngreme e as ruas estreitas, muitas delas de terra batida. É bem lá no topo do Vale do Carangola, comunidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, que seu filho mais ilustre surgiu.

Por lá, se perguntarem por

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A subida é íngreme e as ruas estreitas, muitas delas de terra batida. É bem lá no topo do Vale do Carangola, comunidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, que seu filho mais ilustre surgiu.

Por lá, se perguntarem por Luiz Henrique, até responderão educadamente, mas para os moradores, ele nunca deixará de ser “Zuluzinho”, o menino franzino que pensou em ser judoca e que hoje é a terceira contratação mais cara da história do futebol brasileiro.

A infância foi dura, não há como negar. Com a mesma habilidade que hoje encanta multidões, ele precisou driblar os caminhos tortuosos que batiam sua porta diariamente.

O primeiro contato com o futebol surgiu aos poucos, mais precisamente de selo em selo.

“Tudo começou com o meu pai. Meu pai foi o meu padrasto, que me criou. Na época, tinha uma promoção no jornal que se você juntasse selos, ganhava uma mochila ou uma bola. Aí ele [padrasto] foi juntando, juntando e escolheu a bola. Meu irmão [Luiz Henrique] ficou apaixonado pela bola. Ele era pequeno, tinha 6 anos. Aí eu o levava no campinho e via que era um jogador canhoto e que chutava forte”, diz Diego, irmão de Luiz Henrique, ao UOL.

O SABOR ESPECIAL DO 1º MCLANCHE FELIZ

A primeira vez que Luiz Henrique chamou a atenção de quem trabalha com futebol foi aos sete anos. O menino foi despretensiosamente para uma atividade social com mais de 400 crianças em sua comunidade e impressionou Jhonny Max, aquele que, pouco tempo depois, se tornaria seu primeiro treinador e uma espécie de mentor na carreira.

“Fiz algumas brincadeiras de movimentação, trabalhando coordenação e nisso tinha uma bola largada lá e o Zuluzinho bateu para o gol. A bola foi no ângulo! Aí eu olhei e falei: ‘pô, de canhota, o garoto é diferente’. Aí depois de eu ter feito as atividades, a mãe dele chegou e eu convidei para participar da escolinha nessa quadra aqui. E aí eles começaram a vir”, disse Jhonny Max.

A escolinha a que se refere é a “Escola Max”, situada no centro de Petrópolis, a cerca de 12 km de sua comunidade. Foi lá que Luiz Henrique deu seu primeiro passo na carreira e começou a desenvolver suas habilidades.

As memórias afetivas daquele período ainda são muitas, principalmente no dia em que o jovem foi ao McDonalds pela primeira vez na vida, algo que leva Max às lágrimas.

“Eu passei no McDonald’s e falei: ‘quer ir lá?’. E ele falou: ‘Ah, eu nunca fui’. Aí eu peguei e comprei um McLanche Feliz. Aí tinha um bonequinho que eu acho que era até do Chaves na época. E aí eu dei para ele. Ele ficou feliz da vida com aquilo. Uma coisa tão simples, né? E para ele foi gigante. Então foi uma coisa que marcou muito [lágrimas]”, afirma Johnny Max, treinador da primeira escolinha de Luiz Henrique, ao UOL.

PENSOU EM DESISTIR NA BASE DO FLU PARA SER JUDOCA

A habilidade diferenciada de Luiz Henrique chamaria a atenção de olheiros rapidamente. E foi assim que, aos 11 anos, foi convidado para um teste no Fluminense e passou. Porém, quando a estrada parecia estar ficando cada vez mais pavimentada, surgiram obstáculos inesperados.

Luiz Henrique amava o futebol, mas ainda não havia decidido ser jogador de fato. Quando passou a ter uma rotina mais exigente, de alta performance e com compromissos de treinos e longas viagens para o CT do Fluminense, em Xerém (RJ), sentiu saudade da comunidade, dos amigos e pensou em largar tudo para viver outra paixão que flertava com seu coração: o judô.

“O futebol, quando é de alto rendimento, exige uma fidelidade maior. Então foi quando começamos a ver que ele gostava de jogar, mas o compromisso não tinha ainda. É muito complicado pegar uma criança de oito anos e falar que vai ser jogador de futebol, porque envolve muita coisa. Não só o corpo, mas a mente, o processo todo que a gente tem que percorrer, as subidas e descidas que eu tive que ter com ele. Tive que sair de emprego, começar a descer Xerém, Petrópolis, Xerém, Petrópolis… E nisso fomos construindo uma responsabilidade nele”, explica Max, que complementa:

“Mas chegou um momento que ele não quis mais, porque ele também brincava no colégio à tarde, ficava lá nos projetos que o colégio tem, como o judô. Ele tinha uns 12 anos. Ele ganhou medalha e tudo. Então eu tive que ir na comunidade, falar com a família da grandeza que ele poderia ser. Aí eu consegui o resgatar, mas teve um dia que ele chegou a descer do ônibus dizendo que não queria ir [para o treino no Flu]. Tive quase que pegar no colo. Em seguida, aos 14, ele passou a viver no alojamento do Fluminense e isso foi bom para o amadurecimento dele”, afirma Johnny Max.

SE DISTANCIARAM

De primeiro treinador de Luiz Henrique, Jhonny Max passou a ser também seu primeiro empresário. A relação comercial se manteve até a transferência para o Botafogo. Pouco tempo depois, o atacante decidiu mudar de agente e a relação, atualmente, está estremecida e distante.

Emocionado, Max demonstra mágoa, mas não fecha as portas para a relação que considera de pai e filho.

“Sempre vai ser porque, na verdade, o que conta é o que a gente fez lá atrás, né? Construímos um laço familiar. Na verdade, só deu certo porque ele me considerou como pai. Ele me escutou, chorou na hora que tinha que chorar, fui duro ali na hora que eu tinha que chamar atenção… E só deu certo por isso. Só que toda criança cresce. Com nossos próprios filhos de sangue, às vezes, há situações que saem da gente, né? Mas estou à disposição dele, se ele precisar conversar ou se abrir, ou até se redimir de alguma forma, vou sempre estar aqui. O sonho dele foi meu sonho. Então, nunca vou querer que o sonho dele acabe e se estrague, entendeu?”, afirma.

SELEÇÃO FOI SONHO REALIZADO DA FAMÍLIA

Recentemente, Luiz Henrique deu mais um orgulho para a família. Ele tem sido convocado pelo técnico Dorival Júnior e já fez até gol pela seleção brasileira. O acontecimento gerou muita emoção para a família.

“A seleção brasileira foi emocionante. Foi o sonho do meu pai e o nosso também. Um moleque novo e nem parece que tremeu, porque ele estava com Amarelinha, né (risos)? Ele foi para cima. Foi só alegria mesmo. A primeira convocação dele foi muita emoção e até nesta sexta-feira (29) é muita emoção”, conta Diego, irmão de Luiz Henrique.

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