SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Usar a música como um veículo para causar sensações é a razão de ser de muitas bandas. Enquanto algumas tocam o público com refrões pegajosos ou melodias assobiáveis, outras optam por formas mais radicais, como no caso das duplas paulistanas Test e Deafkids.
A primeira interrompe com pausas de silêncio o andamento de suas músicas pesadas e velozes, adicionando um elemento surpresa à massa sonora de guitarra, bateria e vocal. A segunda cria faixas longas em que o ritmo se torna o portal para um transe, como se as canções fossem mantras nascidos da percussão junto de guitarra e voz processadas por efeitos.
Nesta sexta-feira (10), as explorações sonoras das duas bandas unidas pelo experimentalismo e por uma longa carreira na cena alternativa do Brasil e do exterior se encontram num show conjunto no Sesc Pompeia. Os quatro músicos vão tocar ao mesmo tempo, intervindo no instrumental uns dos outros e mostrando por que seu som causa impacto quando visto ao vivo.
Parte do repertório será formado pela mistura de punk com metal do Test, outra parte serão as faixas distorcidas e psicodélicas do Deafkids, e um terceiro momento terá a apresentação, pela primeira vez, de músicas compostas em parceria pelos conjuntos, que estarão em um disco a ser lançado neste ano.
O que une as duplas, diz Mariano de Melo, baterista e percussionista do Deafkids, é a busca pela sensorialidade, por causar algum estado físico no público. Ele cita como seu grupo usa os vocais, “de maneira mais instrumental, menos comunicativo no sentido verbal de uma tela para pintar a ideia de uma letra”.
Thiago Barata, baterista do Test, conta que sua banda começou a explorar as interrupções abruptas no som como uma tentativa de diminuir um pouco a dinâmica do “‘grind’ absurdo, em volume máximo” feito por ele e João Kombi, o vocalista. De tocar trechos em volume mais baixo, o duo passou para as pausas curtas e, depois, incorporou um longo silêncio numa das faixas.
Neste momento, os músicos ficam com os movimentos suspensos, prestes a tocar, numa performance capaz de causar apreensão na plateia, vidrada à espera do que vai acontecer. Nos segundos sem música, a ideia é prestar atenção na manifestação do público e não retornar aos instrumentos com o primeiro grito de um fã, diz Barata. “Esse silêncio todo dá uma certa ansiedade nas pessoas.”
Nas últimas semanas do ano passado, as bandas, sob o apelido provisório de Deaftest, gravaram 12 músicas juntas, com o propósito de que isso vire um disco. Ainda não há uma data definida para o lançamento, mas Kombi, do Test, diz que deve ser logo. Em março, os grupos saem em turnê conjunta por cidades do Sudeste e do Nordeste, e, em abril, o Test parte para uma série de shows no Japão.
Embora com carreiras independentes, consolidadas nos últimos 15 anos em shows no circuito alternativo no Brasil e nos Estados Unidos e em festivais de música de vanguarda na Europa, as duas bandas já fizeram cerca de cem shows juntas em diferentes momentos da carreira, devido às suas afinidades estéticas e ao público em comum que dividem.
Na Europa, os grupos ganharam um empurrão de Iggor Cavalera, ex-baterista do Sepultura que agora vive em Londres e se dedica à música eletrônica experimental. Cavalera gravou um disco com o Deafkids misturando os sintetizadores de fim do mundo da sua banda Petbrick à sonoridade barulhenta dos paulistanos, e fez uma playlist com o Test, divulgada pela revista Wire, compilando bandas inovadoras da América Latina.
SHOW ‘NO HOPE’ – TEST E DEAFKIDS
– Quando 10 de janeiro, sexta, às 21h30
– Onde Sesc Pompeia – r. Clélia, 93, São Paulo
– Preço R$ 60
– Link: https://www.sescsp.org.br/programacao/test-deaf-kids/