PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Diretor do filme taiwanês de maior bilheteria na história, Wei Te-Sheng apresenta na semana que vem em São Paulo a sua obra de ficção mais recente, “Big”, sobre uma ala de hospital para crianças com câncer.
No início do mês, mostrou o filme em Pequim. Em entrevista, contou que a história fez os espectadores chorarem tanto na China como nos Estados Unidos. Que é “sobre valores universais”, não “questões nacionais”. Daí sua presença na capital chinesa, sem dar atenção à contenda entre a ilha e a China continental.
“Basicamente, a reação do público foi a mesma em todos os lugares”, diz Wei. “As partes que deveriam emocionar, fazer rir ou chorar foram semelhantes, porque é um filme sobre a relação entre pais e filhos, sobre relações familiares. Não vejo distinções culturais significativas.”
Após a apresentação no cinema do complexo Alibaba, em Pequim, o diretor e a atriz Fei-Fei Cheng, hoje com 11 anos, nove durante as filmagens, conversaram com a plateia em meio a reações emotivas, entre outras, de mães relatando experiências semelhantes.
Na primeira sessão em São Paulo, no Belas Artes, no próximo dia 3, o diretor estará sem a jovem atriz para a conversa ao final.
Fei-Fei acaba de ganhar como melhor intérprete estreante o prêmio Cavalo de Ouro, um dos principais do cinema na chamada Grande China -continente, Hong Kong, Taiwan, Macau e Singapura. Melhor filme e direção foram para Lou Ye, de Pequim, com “Um Filme Inacabado”, docudrama sobre tentar filmar na pandemia.
Em “Big”, Wei afirma se concentrar na diversidade dentro do hospital. “Diferentes relações conjugais, crenças religiosas, classes sociais e famílias de crianças com diferentes doenças, que passam de conflitos a ajustes e, por fim, ao apoio mútuo”, diz ele, nas respostas originalmente em chinês.
“Espero mostrar harmonia na diversidade, sem relação com culturas de diferentes países. Aqui não há questões nacionais, no hospital todas as famílias enfrentam vida, morte, doença e problemas cotidianos.”
Tido como responsável pelo ressurgimento do cinema taiwanês em 2007 com seu recordista “Cabo no. 7”, uma comédia romântica musical, ele é crítico da produção atual na ilha.
“O filme realmente impulsionou o renascimento, mas o desenvolvimento ainda é limitado”, diz. “Quando todos perceberam que filmes podiam ser lucrativos, mais gêneros se desenvolveram. Mas recentemente talvez o cinema taiwanês esteja menos satisfatório, devido ao excesso de busca comercial.”
Em sua avaliação, é um fenômeno mundial vinculado à queda de público causada pelas plataformas de tecnologia e acelerada pela pandemia. “Nos últimos dois anos, vídeos curtos têm preenchido o tempo das pessoas, diminuindo o interesse em ver filme inteiro no cinema.”
Wei começou com Edward Yang (1947-2007), talvez a maior referência de cineasta em Taiwan. “Foi meu primeiro trabalho na indústria, aprendi muito”, diz. “Não sou uma pessoa detalhista, mas, sob suas exigências rigorosas, tive que aprender como observar o set, coordenar cenas.”
A maior influência de Yang sobre ele foi, segundo Wei, “do espírito e das palavras que me disse”, por exemplo, sobre a criação partir de elementos distintos do próprio crescimento do artista. “Ele dizia que fazer filmes não é entender o que se pensa ou de onde vem sua criatividade. É entender as relações, não dissecar a mente.”
Do ponto de vista mais prático, “ele sempre enfrentava dificuldades financeiras ao fazer filmes, mas conseguia, com o tempo, completar épicos. Ele conseguia filmar por dez meses sem dinheiro”.
A carreira de Wei, embora com algumas grandes bilheterias, é pontuada pelas mesmas limitações financeiras. Um dos filmes que ainda busca viabilizar abordará, diz, “a minha própria história, sobre a situação dos imigrantes chineses desbravando Taiwan”.
Mais especificamente, uma revolta camponesa em 1652. “Quero retratar a transformação dos chineses em trabalhadores, até serem forçados a uma situação insustentável. É uma história de explosão sob opressão que nossos ancestrais vivenciaram.”
Questionado sobre o cinema brasileiro, Wei diz que seu conhecimento não é extenso. “Mas fui profundamente tocado por ‘Central do Brasil’, que assisti num festival há muito tempo e achei muito comovente, pela sua delicadeza”, afirma, sobre o filme de 1998 dirigido por Walter Salles, também com uma criança no elenco central.
BIG
Quando 3/12, às 18h30, no Cine Belas Artes – debate com o diretor após a sessão; 7/12, às 18h, no ITA; 8/12, às 15h e às 18h, no MIS
Onde Cine Belas Artes – r. da Consolação, 2.423; ITA – r. Topázio, 299; Museu da Imagem e do Som – av. Europa, 158. Todos em São Paulo
Direção Wei Te-Sheng