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Casa de Criadores encara a crise climática com moda glamour e peças-desejo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moda é mais que roupa, costumam dizer os profissionais da área, e nesta premissa se baseia a próxima edição da Casa de Criadores. O evento, dedicado a novas marcas e estilistas emergentes -embora receba também alguns veteranos começa nesta quinta-feira em São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moda é mais que roupa, costumam dizer os profissionais da área, e nesta premissa se baseia a próxima edição da Casa de Criadores. O evento, dedicado a novas marcas e estilistas emergentes -embora receba também alguns veteranos começa nesta quinta-feira em São Paulo com a ideia de trazer ao debate questões do presente, como a emergência climática.

“A moda é muito responsável por poluir o planeta. Algumas coisas que o meio ambiente tem sofrido têm relação com a moda”, diz André Hidalgo, fundador e organizador da Casa de Criadores. O excesso da produção de vestuário e as imagens dos lixões de roupa em Gana e no Chile se tornaram assuntos correntes, e não dá mais para virar a cara.

Neste sentido, alguns dos 44 nomes que desfilam entre até 10 de dezembro embaixo do Viaduto do Chá, no centro da capital paulista, trabalham com o reaproveitamento de tecidos. Hidalgo menciona a apresentação conjunta de Guma Joana e Sukeban, ambas etiquetas de estilistas trans -no vídeo de “A Baile Funk Experience”, a diva pop Anitta rebola vestindo uma saia curta de pegada fetichista da Sukeban,

Outra preocupação da Casa de Criadores, que este ano completa 27 anos, era trazer etiquetas de estilistas indígenas para o lineup, como a Sioduhi Studio, de Manaus. Capitaneada pelo designer de mesmo nome, a grife constrói o seu vestuário com biomateriais colhidos na natureza do Amazonas e do Pará.

São matérias-primas capazes de se regenerar quando descartadas, diz Sioduhi, mencionando o látex da seringueira, usado misturado com o algodão, e fibras têxteis como o fio de tucum, originário da folha de uma palmeira. Parte de suas peças, dentre as quais tops, túnicas e vestidos, são feitas com a ajuda de artesãs da região do Alto Rio Negro, área indígena demarcada onde vivem 23 etnias.

Sioduhi conta que sua proposta é fazer um vestuário “para a contemporaneidade, que acompanha o espírito do tempo”, mas que a sua maneira de produzir as roupas “é uma forma para que a minha geração possa se conectar com conhecimentos milenares”. A fibra de tucum, ele diz, é manuseada há mais de 4.000 anos.

Muito da moda feita hoje por novos criadores vem embalada em discursos conscientes ou resulta de um processo que emprega pequenas comunidades, não grandes indústrias, de modo que comprar roupa às vezes não é mais só levar para casa o look que você mais gosta, mas também contribuir para uma mudança.

“A gente quer mudar as coisas que estão no nosso entorno usando o belo para isso. A sacada é você usar uma ferramenta [a moda] que está associada ao glamour e ao bem-estar de quem está usando”, afirma Hidalgo.

Mas o evento não é só textão, claro, e tem também marcas que encaram a moda pelo olhar mais formalista. Ale Brito diz se inspirar em arte, arquitetura e até nas casinhas que vê na rua para criar os modelos para a sua etiqueta de mesmo nome.

Ele retorna à Casa de Criadores após quase três anos trabalhando para a Alexander McQueen, em Londres. A coleção que apresenta será inspirada pela Inglaterra do período vitoriano, porém pensada para a mulher contemporânea, segundo Brito. Vestidos com caudas de quatro metros de comprimento e casacos arrastando no chão compõem a sua passarela.

“São peças-desejo, fogem um pouco do comercial. Sempre quis fazer moda mais pela imagem de moda do que para venda”, afirma ele, acrescentando que a maioria dos modelitos são únicos, mas que pode produzir os looks sob encomenda.

A Casa de Criadores também traz uma exposição, na galeria Prestes Maia, de fotografias do auditor fiscal do trabalho Sérgio Carvalho, que registrou, entre 2019 e 2022, oficinas de produção de roupa em São Paulo onde os trabalhadores estão em condições análogas à escravidão. Destas minifábricas saem peças que abastecem marcas de luxo do país e o comércio de itens falsificados.

55ª CASA DE CRIADORES

Quando De 5 a 10 de dezembro, das 10h às 22h

Onde Galeria Prestes Maia – pça do Patriarca, 2, São Paulo; Viaduto do Chá – viaduto do Chá, s/nº, São Paulo

Preço Grátis; exposições na galeria Prestes Maia têm acesso livre; desfiles precisam de ingresso, retirados na Sympla

Link https://www.sympla.com.br/evento/05-12-17-30-casa-de-criadores-55-edicao-viaduto-do-cha/2749758?referrer=www.google.com