A pujante economia do Espírito Santo e os grandes investimentos nos municípios têm uma construção longa, desde 2002, quando Paulo Hartung assumiu o Estado pela primeira vez. Quem não se recorda dos salários atrasados, da desvalorização dos servidores e dos tempos sombrios da política capixaba?
Concomitantemente a nova ordem política, a partir daquele ano, outros elementos merecem destaques, como a mudança de mentalidade política dos prefeitos das maiores cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória, como Sérgio Vidigal na Serra (1998/2004), Luiz Paulo na capital (1998/2004), Max Filho em Vila Velha (2001/2008) e Helder Salomão em Cariacica (2001/2008), gestores reeleitos.
Com a reeleição de Paulo Hartung em 2006, o Estado continuou na labuta da política de contenção de gastos e do ajuste fiscal, um sacrifício defendido na época, em nome da saúde financeira. O sucesso do governo era tão grande que levou muita gente a assumir o segundo codinome: “o candidato de Paulo Hartung”.
Em 2010, Renato Casagrande foi o escolhido por boa parte da ala hartunguista, deixando Ricardo Ferraço de lado, mesmo ele liderando todas as pesquisas para o governo. No final, Ricardo concorreu e ganhou para o senado e Casagrande foi eleito governador, com a difícil missão de manter a performance do seu antecessor.
Renato manteve as digitais hartunguistas no seu governo, o que levou muita gente a criticá-lo. Era comum as pessoas fazerem a seguinte pergunta: “Quando Renato Casagrande vai colocar o seu time em campo nos setores estratégicos do governo”? Na minha opinião, demorou muito para Casagrande perceber esse “perigo”, o que pode ter sido uma das causas da sua derrota para o mesmo Paulo Hartung, em 2014.
Com Hartung de volta ao poder, ele cometeu um erro de leitura que custou caro para sua positiva trajetória: “Repetir o discurso de recuperação financeira do Estado e tentar resgatar a estratégia da unanimidade política em torno do seu projeto de governo”. Entretanto, o momento era outro, os interesses mudaram bastante desde o seu primeiro mandato como governador. Faltou a Paulo Hartung uma leitura mais política, sem os traços messiânicos de outrora que se apoiou na insistente retórica da responsabilidade fiscal, sem uma agenda inteligente e necessária de entregas. A greve da Polícia Militar no início de 2017 pode ter sido consequência dessa limitação, uma página triste da recente história do nosso Estado, o que contribuiu muito para desistência de Paulo Hartung concorrer à reeleição.
Assim, em 2018 o caminho ficou livre para o ressignificado Renato Casagrande, que venceu as eleições e começou a implementar uma política municipalista, uma união formada com a maioria dos prefeitos, um drible na polarização nacional entre Lula e Bolsonaro. Aliás, não podemos deixar passar despercebido o “novo” Casagrande, que aprendeu a ler como ninguém o cenário e as possibilidades da política capixaba, como em 2022, quando ele disse não ao PT considerado Hartunguista, o mesmo PT que o deixou na mão em 2014 e apoiou Hartung.
Com a sensação de aprovação elevada, devido ao volume das entregas do seu governo, em 2022 Renato Casagrande e sua equipe subestimaram o alcance da direita, o que resultou no inédito segundo turno com Carlos Manato, aliado do ex-presidente Bolsonaro. Apesar do “susto”, ele foi reeleito e aumentou o seu compromisso com os municípios, um sucesso de composição e de governança política e administrativa.
O Casagrande de hoje é bem diferente do Renato de décadas passadas, tornando-se um dos maiores protagonistas da história política do Espírito Santo, principalmente quando o assunto é política municipalista, basta olhar para Vila Velha, Cariacica e as demais cidades.
Como afirmou Luiz Paulo Veloso Lucas: “O sucesso do Espírito Santo será diretamente proporcional ao sucesso das cidades capixabas”.
Casagrande compreendeu isso muito bem, fazendo das cidades extensões do seu estilo de governança, um verdadeiro pentecoste de entregas.