Momento de Inclusão​

60 anos da Apae Vitória: conquistas, avanços e desafios da inclusão social

A Psicoterapeuta e Neurocientista, Joseana Sousa, o Embaixador da Inclusão, Marcel Carone, o Presidente da Apae Vitória, Pedro Premoli, a Presidente da Federação das Apaes, Graça Vimercati, o Diretor Social da Federação das Apaes, Vanderson Gaburo e a Vice-presidente da Apae Vitória, Eliana Caus, no jantar de 60 anos da Apae Vitória. Foto: Assessoria.

A comemoração dos 60 anos da Apae Vitória representa não apenas a celebração da trajetória de uma instituição, mas também a memória de um movimento social que transformou a realidade de milhares de pessoas com deficiência e suas famílias. Fundada em um período em que a deficiência ainda era fortemente associada à marginalização e ao estigma, a Apae Vitória assumiu o papel pioneiro de dar voz, dignidade e oportunidades a quem, historicamente, esteve excluído da participação plena na sociedade.

Ao longo de seis décadas, a Apae Vitória consolidou-se como referência na promoção da inclusão social, educacional e laboral. Inspirada no movimento nacional das APAEs, a entidade buscou, desde os primeiros anos, romper com a lógica assistencialista para defender a cidadania das pessoas com deficiência. Foram criados programas de atendimento educacional especializado, serviços de saúde multiprofissional e iniciativas de capacitação que permitiram maior autonomia e qualidade de vida.

Entre as conquistas mais significativas, destacam-se a consolidação da educação inclusiva e a criação de políticas públicas orientadas pela defesa dos direitos das pessoas com deficiência, como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI, 2015), que assegura igualdade de condições em educação, trabalho, lazer e participação comunitária. A Apae Vitória, assim como outras do país, contribuiu para a implementação de práticas pedagógicas que valorizam a singularidade dos alunos, promovendo adaptações curriculares e metodologias inovadoras.

No campo da saúde, a instituição ampliou a oferta de serviços especializados em fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento médico, garantindo acesso integral a atendimentos que, por muito tempo, foram restritos à iniciativa privada. Essa atuação não apenas aliviou a sobrecarga das famílias, mas também fortaleceu a rede de atenção básica e especializada no município.

Mais do que os atendimentos diretos, a Apae Vitória desempenhou papel fundamental na transformação cultural em torno da deficiência. A instituição fomentou campanhas de sensibilização, formou parcerias com escolas regulares e empresas e estimulou a convivência social baseada no respeito à diversidade. O preconceito, que antes isolava as pessoas com deficiência, foi sendo progressivamente desconstruído à medida que a presença dessas pessoas em espaços escolares, de lazer e no mercado de trabalho passou a ser defendida como direito e não como concessão.

O aniversário de 60 anos é, portanto, a celebração de uma mudança paradigmática: de uma visão excludente para uma sociedade que, ainda com desafios, caminha em direção à equidade.

Apesar das conquistas, a inclusão plena ainda enfrenta barreiras estruturais, culturais e políticas. Um dos principais desafios está na efetivação da educação inclusiva: muitas escolas públicas e privadas ainda não possuem estrutura adequada, profissionais capacitados ou recursos pedagógicos suficientes para garantir a aprendizagem de estudantes com deficiência. Essa realidade, embora tenha avançado, demonstra que a legislação nem sempre se traduz em práticas efetivas.

Outro ponto crítico é a inserção no mercado de trabalho. Embora leis de cotas tenham ampliado as oportunidades formais, muitas pessoas com deficiência encontram dificuldades de acesso devido à falta de acessibilidade, à resistência empresarial e ao estigma social. A Apae Vitória, nesse sentido, continua a exercer papel fundamental ao oferecer capacitação e mediação com empresas.

Além disso, a sustentabilidade financeira das instituições filantrópicas é um obstáculo constante. A manutenção de serviços de qualidade depende de parcerias com o poder público, doações da comunidade e projetos de incentivo. Em tempos de retração econômica, garantir recursos para assegurar atendimentos de excelência é um desafio diário.

Ao olhar para os próximos anos, a Apae Vitória se depara com a missão de aprofundar sua atuação em rede, fortalecendo o diálogo com órgãos públicos, sociedade civil e iniciativa privada. A aposta em tecnologia assistiva, metodologias pedagógicas inclusivas e políticas públicas mais eficazes será fundamental para consolidar a inclusão como valor inegociável da sociedade capixaba e brasileira.

Mais do que nunca, é preciso reafirmar que a deficiência não define o potencial de uma pessoa. A inclusão é um compromisso coletivo que exige políticas consistentes, práticas inovadoras e, sobretudo, uma mudança contínua de mentalidade social. Os 60 anos da Apae Vitória celebram a resistência, a solidariedade e o avanço, mas também reforçam a necessidade de seguir mobilizando forças para que a inclusão seja uma realidade plena na sociedade.

“A opinião deste colunista não reflete, necessariamente, a opinião da RedeTV! Espírito Santo.”

Jornalista, apresentador de TV, empresário e empreendedor social com profundo compromisso com a inclusão. Como embaixador da Vitória Down, criei a “Brigada 21”, primeira brigada de bombeiros composta por pessoas com Síndrome de Down no Brasil e possivelmente no mundo. Também idealizei o “Pelotão 21”, primeiro pelotão do Exército Brasileiro formado por pessoas com Síndrome de Down, e a “Patrulha 21”, projeto que proporcionou experiências na Guarda Municipal de Vitória e no Salvamar. Possuo diploma da ADESG – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com especialização em Política e Estratégia, e sou Comendador do 38° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro. Além disso, sou embaixador do projeto “Empoderadas”, idealizado pela campeã mundial de Jiu-jítsu e referência nacional no enfrentamento à violência contra a mulher, Erica Paes.

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