A direita que não sonhamos

O que está em jogo nessa trama?
É momento da direita brasileira, verdadeiramente, oferecer uma proposta de nação, e que essa proposta ecoe também no Espírito Santo. Foto: internet.

O radicalismo e a busca por popularidade através de likes e lacração têm assombrado muitos, especialmente quando observamos a crescente adoção dessas estratégias pela direita. Essa direita narcisista parece ter aprendido rapidamente o jogo da lacração, um jogo antigo, onde aumentar o volume da voz frequentemente substitui argumentos sólidos. É como diz o ditado popular: “eu só aumento a voz quando não tenho argumentos.” O espetáculo de deputados federais vociferando, muitas vezes em defesa de causas inconstitucionais ou motivadas por extremismos ideológicos, leva-me a refletir sobre minha própria experiência coordenando o impeachment de Dilma Rousseff no Espírito Santo. Responsável por ser um dos que lideraram 200 mil pessoas de diversas orientações políticas, de forma ordenada, em prol da ética na política. E agora, observando esse cenário atual, pergunto-me: foi para testemunhar o espetáculo dessa suposta direita que derrubamos uma presidente da República?

Essa é uma questão que merece ser explorada neste espaço. Gostaria de começar com uma provocação aos defensores fervorosos do ex-governo Bolsonaro: o impeachment de Dilma não foi conduzido principalmente pelos votos dessa “direita autoproclamada.” Bolsonaro foi apenas uma figura entre muitas e não o líder desse movimento. Arrisco-me a afirmar que o impeachment da presidente Dilma foi impulsionado pelos votos da centro-esquerda, até então imensa maioria em 2016.

Nesta breve retrospectiva histórica, exponho experiências que podem ser instrutivas, corretivas, ou até mesmo desconfortáveis para aqueles que lucram com posturas estridentes e desequilibradas. O retorno ao circo da polarização, sob um forte sequestro da realidade, não beneficia o público, que nada mais é do que o pagador de impostos. Esses mesmos pagadores de impostos, que brevemente se uniram em 2015 e 2016, agora se encontram seduzidos por uma nova proposta de combate ao “sistema”, representada por essa suposta direita, que elegeu Bolsonaro em 2018.

No Espírito Santo, essa direita não trouxe muitas novidades até o momento, muito menos propostas revolucionárias. Após o dia 08 de Janeiro, começou a se assemelhar, em sua imagem, aos Black blocs do passado. No entanto, essa direita, que detém uma legião de votos, sonhos, esperanças e valores, parece não perceber a gravidade da situação. Mais do que não lutar contra privilégios e ganhos pessoais, essa suposta direita também falha em outro ponto, que é o de reconhecer a necessidade de unir diferentes correntes políticas para combater um PT hegemônico que parece não ter aprendido com os erros do passado.

Com discursos infantis, posturas medíocres, discursos de que só eu represento a verdadeira direita, um falso purismo extremista e circense, isolacionistas, essa direita ainda não amadureceu. Ao repetir os mesmos erros do PT na busca pela hegemonia em um campo recém-criado e instável, revelam-se mais oportunistas do que estrategistas, em um momento onde essa qualidade deveria ser valorizada.

O tempo está passando, e é imperativo que esses líderes aprendam com seus erros. Impactados pela dura realidade cotidiana, ser anti-sistêmico torna-se apenas um discurso vazio, belo na superfície, mas hipócrita na essência. O que resta é a consequência do isolacionismo, do purismo que não se traduzirá em votos e mudanças no eixo político das decisões políticas. A escolha dessa dose exagerada de cinismo e hipocrisia sempre afeta a imagem de muitos, aqui no Espirito Santo, temos casos como em Vila Velha onde candidato que gritava o tempo todo nas ruas em carro de som o nome Bolsonaro, teve uma votação pífia.

E o que esperar do cenário capixaba em 2024? O que aguarda esses personagens criados para satisfazer uma base que anseia por mudanças? Uma base que almeja menos intervenção do Estado e mais liberdade econômica, que acredita em um novo sistema educacional capaz de libertar indivíduos, incentivando-os desde cedo a empreender e a buscar conhecimento para criar novas tecnologias que impactem positivamente suas vidas. Uma base que defende um país que promova uma visão empresarial abrangente e respeite os valores fundamentais da democracia ocidental.

No entanto, não vemos movimentos nessa direção. Essa direita, que de forma ardil se coloca sob a liderança de Bolsonaro, parece estar mais focada em combater as agendas identitárias da esquerda de forma oportunista, sem apresentar uma estratégia clara para promover mudanças reais e permanentes. Isso se reflete na falta de iniciativas significativas nos órgãos legislativos, onde poucas medidas são propostas para atender às demandas da população. Se essa direita bem representada em quantitativo, não está produzindo resultados visíveis, a culpa recai sobre os eleitores que ainda não se organizaram para cobrar ações concretas.

Quando a direita fala em conquistar mais de 1.500 prefeituras, não deveria ser apenas para obter maioria no senado, mas sim para promover mudanças efetivas no âmbito municipal. No entanto, os erros e falhas estratégicas em diversas cidades do Espírito Santo indicam que algo está errado. Se não houver metas claras para transformar a realidade, corremos o risco de cair em uma polarização superficial e vazia, sem avanços significativos na política pública. Devemos aspirar a algo mais do que um embate superficial entre direita e esquerda, buscando novas perspectivas políticas e sociais que realmente impactem positivamente nossas vidas e promovam um futuro mais promissor e justo para todos.

Podemos dizer que temos uma pretensa direita sem projeto de país, sem ações estruturantes e logo, essa imensa base irá entender isso, buscando novos líderes ou movimentos que possam trazer essa resposta, se o atual movimento não amadurecer seus políticos eleitos não corrigirem rota e uma superestrutura não for criada para dar resposta a todos esses questionamentos.

Ou seja, essa é a direita não sonhada, uma direita que se oportunizou em ações individuais e que no Espírito Santo sequer seus membros conseguem ter uma estratégia e organicidade unida, dando um aspecto caricatural a esse movimento. Está na hora de parar com os likes e oferecer uma proposta de nação, e que essa resposta ecoe no Espírito Santo.

“A opinião deste colunista não reflete, necessariamente, a opinião da RedeTV! Espírito Santo.”

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