Precision em Ação​

Cognição e Combate: A Ciência da Performance Sob Pressão

No mundo do combate – seja ele militar, policial ou até corporativo – a capacidade de tomar decisões rápidas e precisas pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, entre a vida e a morte. O livro Cognição e Combate, de Irlan Calaça e Rodrigo Menezes, mergulha fundo nessa interseção entre neurociência, psicologia e treinamento tático, mostrando como o cérebro humano reage em situações de alto estresse.

Com base em pesquisas nacionais e internacionais, os autores exploram conceitos fundamentais como a honestidade cognitiva, os vieses mentais e a consciência situacional, conectando ciência e prática de maneira objetiva. Mas não se engane: este não é apenas mais um manual técnico sobre tiro de combate. O que temos aqui é um estudo sobre como o cérebro humano opera sob pressão e como podemos moldá-lo para responder de forma mais eficiente.

A Tríade da Performance: Mínimo Esforço, Máxima Eficiência e Máxima Segurança

Na guerra – e na vida –, vencer não é questão de quem faz mais força, mas de quem gasta energia de forma mais inteligente. O conceito trifatorial apresentado no livro defende três pilares fundamentais para o treinamento e a performance sob estresse:

  1. Mínimo Esforço → Automatizar movimentos para reduzir o gasto cognitivo e físico.
  2. Máxima Eficiência → Tomar decisões rápidas e precisas, evitando desperdícios.
  3. Máxima Segurança → Garantir controle emocional e evitar riscos desnecessários.

Esse modelo reflete um princípio básico da neurociência aplicada ao desempenho: o cérebro odeia desperdício. Quanto menos energia ele precisar gastar para realizar uma tarefa, melhor será o desempenho sob pressão. A elite dos combatentes – seja em unidades táticas, forças especiais ou até mesmo CEOs em crises empresariais – não pensa nos fundamentos básicos quando está em ação. Eles já os internalizaram.

Um operador experiente não precisa “pensar” na empunhadura da arma ou na postura corporal. Ele simplesmente faz.

Isso ocorre porque o treinamento consistente transforma habilidades em reflexos condicionados. O mesmo vale para atletas de elite e até para jogadores de xadrez: o grande mestre não analisa cada jogada racionalmente; ele reconhece padrões e age quase instintivamente.

Mentalidade de Combate: Sobrevivência Além da Técnica

O que separa os operadores mais eficazes do restante não é apenas habilidade técnica, mas mentalidade. No livro, os autores destacam quatro pilares essenciais para desenvolver um mindset preparado para situações extremas:

  1. Aceitação da Realidade → O mundo real não é um videogame. A violência existe e ignorá-la não a faz desaparecer.
  2. Treinamento Consistente → A prática sob condições realistas é a única forma de garantir respostas eficazes no caos.
  3. Resiliência Mental → Manter o foco mesmo sob medo, dor e fadiga.
  4. Prontidão para a Ação → Não é paranoia, é preparação. Quem treina para reagir rápido sobrevive.

“Disciplina é liberdade.” (Willink, 2015, p. 27).

Essa abordagem ecoa os ensinamentos de algumas das forças mais letais do mundo. O treinamento dos Navy SEALs, por exemplo, não busca criar superatletas, mas forjar mentes que não desmoronam quando o caos começa. No mundo corporativo, CEOs que mantêm a calma em meio a crises financeiras demonstram o mesmo princípio: a disciplina mental separa os que sobrevivem dos que quebram.

Consciência Situacional: O Poder de Enxergar o Inimigo Antes que Ele Veja Você

Mica Endsley, referência mundial no estudo da consciência situacional, define três níveis desse conceito:

  1. Percepção → O que está acontecendo ao seu redor?
  2. Compreensão → O que isso significa?
  3. Projeção → O que provavelmente acontecerá a seguir?

No contexto do combate, um operador atento percebe indícios de ameaça antes do confronto começar. Ele observa linguagem corporal suspeita, identifica padrões e evita ser surpreendido. Um policial treinado não precisa esperar um suspeito sacar uma arma para perceber que há perigo – ele já percebeu os sinais de pré-agressão segundos antes.

Esse conceito é facilmente transportável para qualquer cenário competitivo:

  • Um executivo atento identifica mudanças no mercado antes da concorrência.
  • Um atleta percebe a movimentação do adversário antes da jogada se desenvolver.
  • Um piloto de Fórmula 1 antecipa possíveis colisões com base na dinâmica da corrida.

Seja no campo de batalha ou no escritório, a máxima é a mesma: os mais preparados enxergam o jogo antes que ele aconteça.

Da Guerra para o Mundo Corporativo: O Campo de Batalha Disfarçado de Sala de Reunião

A ideia de que Cognição e Combate se aplica apenas a policiais e militares seria um erro grosseiro. Os mesmos princípios podem ser usados por empresários, gestores e qualquer profissional que atua sob pressão extrema.

  1. Mentalidade de Combate vs. Mentalidade de Liderança

Assim como um combatente precisa agir rápido diante do perigo, um líder precisa tomar decisões estratégicas sob pressão. No mundo corporativo, hesitar demais pode custar milhões.

Exemplo: Uma startup enfrenta uma concorrência agressiva.

  • Líder despreparado → Entra em pânico, reage impulsivamente e afunda a empresa.
  • Líder com mentalidade de combate → Analisa friamente, ajusta a estratégia e ataca no momento certo.
  1. Gestão de Segurança vs. Gestão de Pessoas

Um comandante militar precisa manter sua tropa motivada e preparada. No mundo dos negócios, equipes desmotivadas são como soldados sem munição: não importa a estratégia, eles não vencerão a batalha.

Jocko Willink: “Não é o que você prega, é o que você tolera.” (Willink, 2015, p. 129).

  1. Consciência Situacional no Combate vs. Inteligência de Mercado

A guerra econômica segue as mesmas regras da guerra física: quem enxerga primeiro, vence. Empresas que ignoram o cenário ao redor acabam emboscadas pela concorrência.

“Você precisa assumir responsabilidade por tudo ao seu redor. Não há ninguém para culpar além de você.”— (Willink, 2015, p. 14).

Exemplo prático:

  • Uma gigante da tecnologia ignora tendências emergentes. Resultado? É ultrapassada por uma startup inovadora.
  • Outra gigante antecipa a mudança e se adapta antes da concorrência. O resultado? Domina o mercado.

Conclusão: Treinamento, Ciência e Estratégia – A Trindade do Sucesso

O livro Cognição e Combate não trata apenas de técnicas de tiro ou combate físico. Ele apresenta um modelo mental para performance sob estresse, aplicável a diversas áreas.

A tríade Mínimo Esforço, Máxima Eficiência e Máxima Segurança se torna um mantra para qualquer profissional que precise atuar sob pressão. Da mesma forma, os conceitos de Mentalidade de Combate e Consciência Situacional garantem que decisões sejam tomadas com inteligência e estratégia.

Seja no campo de batalha, nas ruas ou no mundo dos negócios, uma coisa é certa: os preparados dominam, os despreparados sucumbem.

Referências

  • Calaça, I., & Menezes, R. (2022). Cognição e Combate: Processos Cognitivos e Tiro de Combate. Clube de Autores.
  • Endsley, M. R. (1995). Toward a Theory of Situation Awareness in Dynamic Systems. Human Factors37(1), 32–64. Acesso em: https://prodgti.s3.eu-west-2
  • Willink, J., & Babin, L. (2021). Responsabilidade Extrema: Como os Navy Seals Lideram e Vencem. Alta Books.

 

“A opinião deste colunista não reflete, necessariamente, a opinião da RedeTV! Espírito Santo.”

Pedro Castro: Bacharel em Direito e Marketing, pós graduado em Digital Strategy Leadership; Mídia Performance; Marketing Digital; Finanças e Mercados de Capitais; Gestão de Nagócios. Pós graduando em Biomecânica e psicofisiologia do combate. Faixa preta de Jiu-Jitsu; Grau Preto de Muay Thai; Instrutor de Armamento e Tiro; Instrutor de Retenção e Contra-retenção de armas de fogo; Instrutor de Combate Veicular; Instrutor de Imobilizações Táticas e uso de algemas; Operador MARC1 e Instrutor Stop the Bleed. Há mais de duas décadas, Pedro Castro, fundador da Brutal Precision, dedicou sua vida ao estudo e ensino das nuances do enfrentamento entre seres humanos. Com uma paixão inabalável pela segurança pessoal e pelo manuseio de armas de fogo, Pedro desenvolveu uma metodologia exclusiva que combina técnicas de artes marciais com as práticas mais avançadas de tiro. Essa integração permite que nossos alunos desenvolvam habilidades básicas, simples, mas extremamente eficazes.

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