Foto: © ONU/Cia Pak.
O Dia Internacional da Paz, celebrado em 21 de setembro, foi criado pela ONU em 1981 para lembrar que a paz é um esforço coletivo e contínuo. A ONU é uma organização internacional que surgiu em 1945, como uma ação conjunta de 193 países membros que visam trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial (ONU, 2025). Uma vez que foi declarado na Assembleia Geral das Nações Unidas, declarou que a paz é sempre possível e a violência é evitável, propõe-se a oposição à fatalidade da força e da política de poder. Kofi Annan, ex-secretário-Geral da ONU, reiterou que a verdadeira paz vai muito além da mera ausência de guerra e engloba também desenvolvimento econômico, justiça social, democracia, diversidade, dignidade e respeito pelos direitos humanos (Pureza, 2000).
Com a existência de conflitos persistentes é preciso construir intervenções de paz a partir de condições duradouras de convivência. É nesse contexto que surgem quatro conceitos fundamentais das Relações Internacionais: peacemaking, peacekeeping, peace enforcement e peacebuilding.
O peacemaking consiste em ações diplomáticas e negociações políticas para encerrar conflitos armados em curso, levando as partes em conflito a um acordo através de meios pacíficos. Um exemplo recente é a mediação da União Africana (UA) e da ONU no Sudão, em um encontro entre o presidente da UA, Adis Abeba e o secretário-geral da ONU, António Guterres, que resultou em acordos de cessar-fogo temporários em meio a guerra civil em curso. Esses processos são urgentes, pois salvam vidas no curto prazo, mas frequentemente esbarram em dificuldades para se tornarem permanentes.
O peacekeeping refere-se às missões da ONU que enviam os chamados “capacetes azuis”, que são as forças de manutenção de paz composta por civis, militares e polícias que trabalham em conjunto para monitorar acordos,proteger civis, assegurar a paz e a segurança mundial. Atualmente, há cerca de 87 mil militares, policiais e civis em 12 operações de paz ativas (ONU, 2025), assim como há a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FINUL) que conta com mais de 10 mil soldados de 50 países dedicados a monitorar a Linha Azul (fronteira traçada pela ONU entre o Líbano e Israel) ao mesmo tempo que se empenha para diminuir as tensões entre as duas partes.
O peace enforcement vai além do monitoramento e atua, com autorização pelo Conselho de Segurança da ONU, por meio da força sob as partes em conflito que não estão colaborando em firmar acordos de paz. Hoje, esse conceito está no centro do debate sobre a República Democrática do Congo, onde ataques de grupos armados desafiam diretamente as tropas da ONU e a população civil. A prática atual de conceder mandados de “peace enforcement” aos capacetes azuis da ONU, embora necessário para conter massacres, é alvo de críticas pois gera tensões de soberania e, às vezes, acusações de abuso.
Já o peacebuilding atua de maneira mais ampla e, além de firmar acordos e cessar-fogos, busca construir bases sólidas para evitar a retomada da violência. Inclui reconstrução institucional, fortalecimento da democracia, promoção dos direitos humanos e inclusão social. Na Colômbia, o acordo entre o governo de Gustavo Petro e a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), assinado em maio de 2024, trouxe esperança de avanço nas negociações de paz buscando legitimar e fortalecer o diálogo, indo além dos tradicionais debates sobre cessar-fogo
O Brasil tem tradição de defesa do diálogo como instrumento de resolução de conflitos. Liderou missões da ONU no Haiti, por exemplo, além de se posicionar como mediador em crises regionais na América Latina. Essa vocação para a negociação reflete a imagem de um país que aposta no multilateralismo e no “soft power” diplomático através da paz, defendendo soluções pacíficas, combinando diplomacia (peacemaking) e participação em operações de paz (peacekeeping).
Entre fazer a paz (peacemaking), mantê-la (peacekeeping), aplicá-la com força quando necessário (peace enforcement) e construí-la no longo prazo (peacebuilding), entende-se que para se alcançar a paz, além de encerrar guerras, também é preciso garantir que elas não retornem. O Dia Internacional da Paz nos lembra que ela deve ser cultivada em várias camadas e mantidas em prol de um mundo menos violento e mais justo.