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Dólar dispara para R$ 5,85 e Bolsa cai, com eleições dos EUA e contas públicas do Brasil em foco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta forte alta nesta sexta-feira (1°), com dados fracos de emprego dos Estados Unidos e a proximidade do fim das eleições presidenciais do país sob os holofotes.

Além disso, no Brasil, temores de investidores com as contas públicas ainda são fatores de

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte alta nesta sexta-feira (1°), com dados fracos de emprego dos Estados Unidos e a proximidade do fim das eleições presidenciais do país sob os holofotes.

Além disso, no Brasil, temores de investidores com as contas públicas ainda são fatores de pressão. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, estará em viagem à Europa na próxima semana, tornando “praticamente impossível”, segundo um interlocutor, que o governo apresente uma definição sobre o pacote de revisão de gastos nos próximos dias.

Às 15h33, a moeda norte-americana subia 1,30%, a R$ 5,856, em sessão marcada por alta volatilidade. Esse é o maior patamar para a divisa desde o início da pandemia: no fechamento de 15 de maio de 2020, estava cotada em R$ 5,841.

Já a Bolsa tinha forte queda de 1,02%, aos 128.379 pontos.

O mercado repercute pressões externas e domésticas no câmbio desta sexta-feira.

A começar pela ponta do exterior, o relatório “payroll” (folha de pagamento, em inglês) dos Estados Unidos apontou que 12 mil postos de trabalho foram criados no mês de outubro, ante 254 mil no mês anterior. A expectativa de analistas consultados pela Reuters era de 113 mil novas vagas.

Por outro lado, o relatório também mostrou que a taxa de desemprego americana se manteve em 4,1% no mês, exatamente em linha com o esperado.

A forte desaceleração, segundo especialistas, foi causada por furacões recentes, como o Milton, e greves trabalhistas —em especial a paralisação na Boeing—, o que dificulta uma interpretação mais acertada sobre o significado dos dados desta sexta.

A leitura, apesar disso, é de que o mercado de trabalho está, de fato, mais enfraquecido do que se achava anteriormente, e os agentes financeiros passaram a precificar o peso do relatório sobre a decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) da semana que vem, marcada para 5 e 6 de novembro.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade da autoridade monetária continuar o ciclo de cortes com uma redução mais branda, de 0,25 ponto percentual, marcava 98%. Antes dos dados, estava em 89%.

O movimento derrubou os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano, o que, por sua vez, tirou parte da atratividade do dólar para os investidores. A moeda chegou a cair momentaneamente no Brasil, atingindo a mínima de R$ 5,76 na sessão.

Mas a valorização do real não conseguiu se sustentar. Segundo analistas, os principais motivos para a permanência do dólar em patamares tão altos no Brasil são a proximidade das eleições presidenciais dos EUA e a cautela em relação à cena fiscal.

“Com a eleição norte-americana na reta final e sem qualquer perspectiva para o plano de contingenciamento de gastos do governo brasileiro, parece não haver um único motivo para que o dólar volte a cair”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Pesquisas de intenção de voto indicam que o candidato republicano Donald Trump e a atual vice-presidente democrata Kamala Harris estão em empate técnico. No mercado de apostas, porém, as chances de um retorno do republicano Casa Branca marcam 66%, segundo a plataforma Polymarket.

As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.

“O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias”, afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.

Já na ponta doméstica, os investidores seguem atentos às contas públicas: para eles, é preciso ajustes na ponta das despesas, e não só reforços na arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

O mal-estar do mercado começou na terça-feira, quando Haddad afirmou que as propostas de corte de gastos prometidas pelo governo estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao petista definir quando o conjunto será fechado.

A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, findadas no último domingo.

Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode “dificultar o processo e afastar a concretização das medidas”.

Já na quarta-feira, Haddad disse que há convergência com a Casa Civil em torno da elaboração do pacote, mas ressaltou que o plano passa por análise jurídica e ainda não tem prazo para ser apresentado.

Em entrevista a jornalistas, ele ainda afirmou que deve ser necessário aprovar uma emenda constitucional para efetivar medidas em análise, ressaltando que elas terão “o impacto necessário para o arcabouço ser cumprido”. As falas aliviaram parte dos temores dos investidores, mas não foram o suficiente para arrefecer a pressão sobre o câmbio.

Temores de que a regra seja insustentável a partir de 2027 têm contribuído para a avaliação mais pessimista da política fiscal já no momento presente, o que se reflete nas taxas de juros e no câmbio.

“O real já tem um problema doméstico que é a falta de apresentação de um plano crível de corte de gastos. Isso prejudica tanto a curva de juros quanto o câmbio”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

A equipe econômica do governo, agora, avalia criar um limite global para as despesas obrigatórias, que seguiria o mesmo índice de correção do arcabouço fiscal (expansão de até 2,5% acima da inflação ao ano).

Caso os gastos obrigatórios avancem acima desse patamar, gatilhos de contenção seriam acionados para ajudar a manter a trajetória de despesas sob controle.

A definição sobre o pacote de corte de gastos, porém, poderá mais tempo que o desejado pelo mercado. Haddad estará fora do país, em viagem a quatro capitais europeias, entre segunda-feira (4) e sábado (9).

Isso, somado às reuniões de política monetária do Fed e do BC, bem como às eleições americanas, “em trazido muita tensão, e o investidor procura se proteger no dólar, o que pode trazer novas máximas nos próximos dias”, diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos.

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