(UOL/FOLHAPRESS) – O nome é Josenildo Santos Melo Filho, mas pode chamar de Doido. O Doido de Mandacaru, um bairro de João Pessoa.
Com 24 anos, 20 deles vividos em orfanatos, era um dos destaques do X1, modalidade de futebol society, em que cada equipe conta com apenas um jogador – e mais o goleiro – de cada lado.
Ele fez um vídeo pedindo oportunidade no futebol e foi acolhido no Auto Esporte. Na primeira rodada do Campeonato Paraibano, fez um belo gol de falta aos 41 minutos do segundo tempo e levou seu time ao empate contra o poderoso Treze.
Procurado para entrevistas depois do jogo, contou toda a tristeza de sua vida, desde a morte do pai, quando tinha somente 4 anos até a passagem por orfanatos e a dificuldade em falar, o que valeu o apelido de Doido. Doido de Mandacaru. Falou ainda do sonho de jogar no Vasco. Sonho que parece impossível, ele ainda é reserva no Auto Esporte.
O Campeonato Paraibano teria o duelo entre o Doido e Etinho Cavalo de Aço, outro craque do X1. Duelo frustrado. Etinho não se adaptou e foi dispensado pela Picuiense antes de a bola rolar.
O mês de novembro é de festa para a paraibana Picuí, cidade de 19 mil habitantes, a 230 quilômetros de João Pessoa. Todos aproveitam a Festa da Carne de Sol.
“Tem corrida de garçom, com bandeja e copos e concurso de comilão. Quinze minutos cronometrados e tem gente que come um quilo e meio”, conta Halid Mohamed, 37 anos, vice-presidente da Desportiva Picuiense, fundada em 2008 e que disputa a primeira divisão do Campeonato Paraibano pela primeira vez.
TIME DE VÁRIAS NACIONALIDADES
Neto de palestinos, Halid não é a única presença estrangeira no clube. Tem argentino, equatoriano, guineense e tinha Nikola Peric, goleiro sérvio, que já atuou pela seleção de base de seu país e abandonou tudo pela aventura brasileira.
“Não ligo para dinheiro e a oportunidade de jogar no Brasil, o país que é o berço do futebol e que tem belas praias, foi irrecusável”. As belas praias mais próximas ficam no Rio Grande do Norte e não na Paraíba.
A primeira vinda de Nikola ao Brasil foi para jogar no Altos, do Piauí. Voltou para a Servia, ficou seis meses e, de volta ao Brasil, defendeu equipes como Spartak, Jarabacoa, Lucena, Forca e Luz e Novo Horizonte, antes de chegar à Picuiense, onde era o maior salário, R$ 4 mil por mês.
“Eu estava a ponto de fazer uma carreira séria na Sérvia, joguei em seleção de base, mas resolvi mudar. Aqui também é sério, todos trabalham duro, mas sei que não é um grande clube, como Flamengo”.
A aventura terminou com a goleada sofrida por 6 x 0 diante do Campinense. Peric foi demitido.
A cidade de Bananeiras fica a 130 quilômetros de Picuí. A universidade local tem convênio e recebe estudantes de Guiné-Bissau. Um deles, Marcelino Embana, veio estudar agronomia. Passou a disputar campeonatos amadores. Um vídeo no YouTube chamou a atenção de Halid e… pronto, faz parte da folha salarial de R$ 55 mil mensais da Picuiense.
Chegaram, através de um empresário, Nacho, atacante argentino de 18 anos, e Victor, lateral equatoriano de 20. “Eles vão ficar no time de base por enquanto. Queremos jogar a Copinha do próximo ano”, afirma Halid.
A Copinha é a razão de a Picuiense estar na primeira divisão. A vaga era do Cruzeiro, de Itaporanga, que preferiu disputar a competição sub-20 em São Paulo.
Campeonatos amadores são fonte de captação de jogadores para Halid. Ele ouviu falar de Alan, artilheiro do campeonato de Pedra Lavrada, a 35 quilômetros. Foi buscar informações e soube que ela artilheiro em três outras cidades.
Foi contratado e dono de um momento emocionante. Fez os dois gols no empate por 2 a 2 com o Nacional de Patos, o último deles nos acréscimos. Chorou muito. “Faz dois meses eu era servente de pedreiro e agora estou na primeira divisão da Paraíba”.
TEM ATÉ DINOSSAURO
Servia, Guiné-Bissau, Equador, Argentina, Pedra Lavrada e…a terra dos Dinossauros, como é conhecida Sousa, no Sertão Paraibano.
A cidade é conhecida por ter a maior quantidade de pegadas de dinossauros do Brasil, descobertas há 100 anos. De lá, veio o atacante Júnior. Júnior Dinossauro, que tem o apelido tatuado na perna.
E o que a Picuiense espera do campeonato? “Nossa vaga foi confirmada no inicio do ano, tivemos pouco tempo para treinar e somos a equipe marcada para cair. Mas estamos enfrentando “, diz Halid.
E se não der certo? “A gente luta para subir de novo, a gente não desiste”.