SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entidades de imprensa criticaram a exclusão do jornal Folha de S.Paulo de entrevista feita pela Polícia Federal nesta quarta-feira (4) com os principais veículos de comunicação do Brasil.
O encontro com os jornalistas foi sobre o inquérito da trama golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele aconteceu na sede da corporação, em Brasília.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, foi questionado por meio de sua assessoria sobre as razões do veto, mas não quis se manifestar. O Ministério da Justiça, a quem a PF é subordinada, disse apenas que caberia à corporação se posicionar.
Sobre o episódio, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou considerar “estranha” a exclusão da Folha na entrevista. ” É incompreensível que um dos principais veículos jornalísticos do país não tenha sido incluído num ato que deveria ser exemplo de transparência pública”, afirmou por meio de nota.
“Em defesa da liberdade de imprensa e da impessoalidade no trato das questões públicas, a entidade espera um posicionamento da Polícia Federal ou do Ministério da Justiça, a qual está subordinada, para explicar esta restrição a um de seus associados.”
Katia Brembatti, presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), apontou ser inadequada a exclusão deliberada de um veículo de imprensa.
“Nem todos os meios foram convidados, mas a Folha figura entre os mais relevantes do país e costuma estar na lista dos chamados para esses eventos. Sendo assim, a exclusão não é aleatória. A situação fica ainda mais preocupante quando esse órgão sequer apresenta uma justificativa ao excluir o veículo de uma coletiva”, afirmou.
Ela ressaltou a importância de a imprensa ser tratada de forma isonômica.
“Questões pontuais, como o descontentamento com uma cobertura, não deveriam ser tratadas com retaliações. Vale destacar que essa atitude da PF não atinge exclusivamente a Folha ou a categoria jornalística, mas prejudica toda a sociedade em seu direito de ser informada sobre questões de interesse público.”
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) repudiou qualquer tipo de restrição de acesso a veículos de comunicação.
“A transparência e o livre acesso à informação são pilares fundamentais da democracia, e a exclusão de um veículo desse porte sem justificativa configura uma prática antidemocrática e preocupante”, apontou.
A organização ressaltou a importância de as instituições públicas atuarem com isonomia no relacionamento com a imprensa, garantindo o direito constitucional à informação e o pleno exercício do jornalismo.
“Estamos acompanhando o caso e esperamos que a Polícia Federal se manifeste com clareza sobre os motivos dessa exclusão, para evitar que episódios semelhantes se repitam”, disse.
Ainda na quarta-feira, o diretor-geral da PF foi questionado pessoalmente pela Folha, mas se recusou a dar explicações.
“Vocês mandaram email lá, né [com pedido de posicionamento]? Não vou comentar”, disse o diretor-geral da PF no término da reunião do Consesp (Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública).
Esse tipo de encontro de autoridades com jornalistas é comum em Brasília. Na maior parte das vezes, as informações são dadas na condição “off-the-record” no jargão jornalístico, quando a fonte não deve ser identificada.
É incomum, porém, a exclusão de órgãos de imprensa que normalmente fazem a cobertura jornalística diária da cúpula dos três Poderes.
A Folha de S.Paulo normalmente participa desse tipo de entrevista coletiva, desde que os temas a serem abordados sejam relevantes e de interesse público.
A reportagem obteve a íntegra do áudio da entrevista de mais de duas horas dada por Andrei e mais três diretores da PF aos jornalistas convidados.
A trama golpista foi o principal tema abordado pelo diretor-geral no encontro, que tratou de tópicos considerados por ele como sendo qualidades da polícia e de sua gestão, além de possíveis lacunas na investigação, levantadas por jornalistas.