BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A participação das hidrelétricas na geração de energia do Brasil cairá para menos de 50% em 2034, de acordo com a estatal EPE (Empresa de Pesquisa Energética). A previsão é que a queda seja acompanhada do crescimento de outras fontes, como usinas solares, eólicas e aquelas movidas a gás natural.
As hidrelétricas são responsáveis por 55,8% da energia gerada pelo país hoje e, em dez anos, a previsão é que a participação seja de 46,7%. Mesmo assim, elas ainda devem ser a principal fonte de eletricidade do país.
A menor fatia das hidrelétricas deve ser compensada pelo crescimento de fontes como a eólica, que cresceria dos atuais 15% de participação para 17,2% em dez anos mantendo a segunda posição na matriz geradora. A solar, por sua vez, passaria de 3,4% para 5,8%.
Também chama atenção o crescimento do gás natural, que quadruplicaria sua geração no horizonte de dez anos. As usinas térmicas não renováveis mais que dobrarão sua participação no sistema, de 2,9% para 6,4%. A nuclear também teria fatia maior, de 1,8% para 2,4%.
De acordo com a EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, mesmo com o crescimento da geração a gás natural, a geração brasileira será 86,1% renovável no horizonte de tempo analisado.
A estatal também estima que a geração crescerá a uma taxa média de 3,3% ao ano, chegando em 2034 com uma oferta estimada de 1.045,3 TWh (terawatts-hora). Mesmo assim, a oferta de energia per capita ainda ficaria aquém da média mundial vista hoje e significativamente abaixo do visto atualmente em países como os Estados Unidos.
Os números serão analisados de forma detalhada a partir desta sexta (8) em consulta pública do Plano Decenal de Expansão de Energia 2034, coordenado pela EPE e pelo Ministério de Minas e Energia.
O levantamento estima que o país terá R$ 3,2 trilhões em investimentos em energia de forma ampla. O valor é o mesmo já observado em edições do levantamento feitas em anos anteriores.
Para o horizonte até 2034, o montante seria dividido em três categorias principais. Petróleo e gás responderiam por R$ 2,5 trilhões, energia elétrica por R$ 597 bilhões e biocombustíveis líquidos por R$ 102 bilhões.
Movimentos recentes podem incentivar investimentos em hidrelétricas. Conforme mostrou a Folha, o governo estuda criar um indicador para avaliar necessidades de geração de energia no país. O novo critério analisaria o quão flexível está o sistema para atender às demandas surgidas em curtíssimo tempo e, a depender dos resultados, pode resultar em um novo tipo de leilão no setor.
Caso o indicador aponte que o sistema é deficiente em flexibilidade, os dados podem desencadear a decisão por novos leilões voltados especificamente a resolver esse problema. O debate atualmente está em estabelecer um prazo para a criação do indicador.
A flexibilidade seria proporcionada pelas hidrelétricas, de acordo com envolvidos nas discussões. Essas usinas têm condições de elevar rapidamente o atendimento em momentos de urgência.
O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) pode comunicar à usina, por exemplo, que em dez minutos deve haver aumento de geração em 200 megawatts. Essa necessidade pode ser observada, por exemplo, em um dia de temperaturas mais altas quando há um consumo mais intenso devido ao acionamento de aparelhos de ar-condicionado.