A Igreja Matriz da Paróquia São João Batista, localizada em Muqui, no Sul do Espírito Santo, foi interditada na semana passada após uma vistoria do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), que identificou risco de colapso no teto da edificação histórica.
O laudo apontou que uma infestação severa de cupins comprometeu toda a extensão da cobertura do templo, provocando sobrecarga estrutural e gerando fissuras relevantes nos pilares, além de danos nas ligações entre a base e os elementos decorativos feitos de madeira e material cimentício.
Em razão desses problemas e visando à segurança dos fiéis e do patrimônio, o templo foi fechado no dia 20 de março. As celebrações e demais atividades religiosas foram transferidas para o Salão Paroquial e outras igrejas da cidade.
O padre Enildo Genésio de Souza, que assumiu a paróquia há três meses, foi quem solicitou a inspeção após receber informações sobre possíveis falhas na estrutura. Ele lamentou a situação, destacando o valor simbólico e turístico da igreja, considerada um ícone de Muqui e integrante do Sítio Histórico da cidade.
A presença dos cupins foi constatada durante um estudo que visava avaliar a viabilidade da restauração dos vitrais e das portas do templo. Para isso, foram acionados uma arquiteta especializada em patrimônio e um engenheiro civil, que identificaram o comprometimento estrutural do telhado. A paróquia então notificou a Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e o Crea-ES.
Nesta sexta-feira (28), dois arquitetos irão até o local para iniciar a avaliação da estrutura e elaborar um projeto de escoramento. Já na semana seguinte, um especialista em restauração de coberturas também fará uma vistoria com o objetivo de iniciar o planejamento das obras.
Ainda não é possível afirmar se será necessário substituir completamente o telhado ou se serão suficientes reparos pontuais. O custo total da intervenção também permanece indefinido. Segundo o padre Enildo, por se tratar de um processo de restauração — e não de simples reforma — será preciso preservar as características originais da construção, uma vez que o imóvel faz parte do patrimônio histórico e cultural da região.
A paróquia já notificou a Secult e entende que os recursos para o restauro devem ser providenciados pela secretaria, uma vez que a igreja é um bem tombado e integra o Sítio Histórico de Muqui. Após a conclusão dos orçamentos e projetos, os documentos serão encaminhados oficialmente à Secult com um pedido de liberação emergencial de recursos. Caso o pedido seja negado, a paróquia poderá buscar apoio financeiro na iniciativa privada.
A Secretaria de Cultura informou ao g1 que, até o momento, não recebeu o laudo técnico elaborado por profissionais contratados pela Diocese. Apenas uma solicitação informal de visita técnica foi feita à Gerência de Memória e Patrimônio (GMP). A secretaria reforçou que, embora o imóvel pertença à Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, ele é tombado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC), o que exige que qualquer intervenção seja previamente aprovada tanto pelo CEC quanto pela própria Secult. A pasta também disse estar aberta ao diálogo e disposta a colaborar.
O Crea-ES realizou uma análise visual da estrutura de madeira do telhado e das laterais, com registro fotográfico dos principais danos observados. De acordo com o engenheiro civil Erivelto Diogo da Silva, a ausência de projetos arquitetônicos e estruturais dificultou uma avaliação técnica mais detalhada, sendo o diagnóstico baseado em evidências visuais de degradação causada por agentes biológicos.
O engenheiro apontou ainda que a idade do edifício, aliada à falta de um plano de manutenção adequado, favoreceu o surgimento dos problemas estruturais. Diante disso, o conselho recomendou que o acesso ao interior da igreja seja restrito às equipes técnicas envolvidas nas ações de escoramento, recuperação e tratamento da estrutura.
O Crea também indicou a necessidade de contratar profissionais habilitados para uma inspeção predial completa e a elaboração de um novo projeto estrutural do telhado, conforme os parâmetros da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além disso, o relatório técnico destacou a importância da descupinização da estrutura, incluindo os imóveis do entorno e a área verde próxima ao templo.