Quarenta e três estudantes de uma escola estadual em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, foram encaminhados ao hospital para a realização de exames após participarem de uma atividade prática em sala de aula, na qual a mesma agulha foi utilizada para a coleta de sangue. O caso ocorreu na última sexta-feira (14).
Os alunos, com idades entre 16 e 17 anos, pertencem às turmas de 2ª e 3ª séries do Ensino Médio. O professor de Química responsável pela atividade foi demitido, e a situação foi encaminhada para a corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu). De acordo com a secretaria, a prática foi conduzida sem autorização da coordenação pedagógica. O nome da instituição de ensino não será divulgado para preservar a identidade dos estudantes.
Especialistas alertam que o uso compartilhado de seringas e agulhas representa um risco significativo para a transmissão de doenças infecciosas, como HIV e hepatites B e C.
Pais dos alunos relataram que seus filhos participaram de uma aula prática de Ciências, que envolveu quatro turmas, com o objetivo de identificar os tipos sanguíneos dos participantes. Ao tomarem conhecimento da atividade, os responsáveis ficaram preocupados com possíveis impactos na saúde dos estudantes e procuraram a escola e as autoridades policiais.
Após a realização dos exames, os adolescentes relataram que passaram a ser alvo de discriminação na escola devido à possibilidade de contaminação.
Diante da situação, a Secretaria Municipal de Saúde de Laranja da Terra foi acionada. O hospital local e a Vigilância Epidemiológica do município iniciaram o protocolo de testagem na própria sexta-feira (14).
Todos os estudantes e o professor passaram por exames para diagnosticar possíveis infecções. Até o momento da publicação desta reportagem, os testes apresentaram resultados negativos.
Nesta segunda-feira (17), uma reunião foi realizada com pais e alunos da escola, contando com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Saúde, para esclarecer dúvidas sobre o ocorrido. A Sedu informou que os estudantes serão monitorados e deverão repetir os exames em 30 dias, conforme protocolo de segurança.
Riscos do compartilhamento de agulhas
A médica infectologista Ana Carolina D’Ettores ressalta que a reutilização de agulhas é uma prática de alto risco, pois pode expor as pessoas a doenças graves, como HIV/Aids, hepatites B e C e infecções bacterianas.
Ela destaca que as agulhas não devem ser reutilizadas, nem mesmo no próprio paciente. Após o uso, devem ser descartadas adequadamente em recipientes próprios para resíduos biológicos. Além disso, a área do corpo que será perfurada precisa ser higienizada corretamente antes da aplicação.
A especialista ainda reforça a necessidade de acompanhamento médico para os jovens expostos ao compartilhamento da agulha, com exames periódicos nos intervalos de 30, 60 e 90 dias para monitoramento de possíveis infecções.
Posicionamento das autoridades
A Sedu informou que os alunos estão bem e continuam frequentando as aulas normalmente. Todos os 44 estudantes foram submetidos a testes rápidos, que não indicaram a presença de infecções. Além disso, na manhã desta terça-feira (18), foram realizados exames complementares para avaliar a imunidade contra hepatites B e C.
O professor envolvido teve seu contrato encerrado, e o caso foi encaminhado para a corregedoria da Sedu.
Para garantir o acompanhamento adequado dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) se reuniram para estabelecer os protocolos a serem seguidos. Os alunos passarão por novos testes dentro de 30 dias. A escola também organizou um encontro com os pais e responsáveis para prestar esclarecimentos.
A atividade experimental realizada pelo professor de Química ocorreu sem a devida autorização da coordenação pedagógica. Assim que a Sedu tomou conhecimento do ocorrido, adotou as providências necessárias.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que, ao ser acionada, entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo para seguir as orientações e protocolos adequados à situação.
O atendimento médico foi prestado pelas equipes do Hospital Municipal de Laranja da Terra e da Unidade Básica de Saúde da sede. Segundo as autoridades de saúde, todos os alunos atendidos estavam em boas condições, sem apresentar sintomas incomuns. A Secretaria Municipal de Saúde segue acompanhando o caso e oferecendo apoio aos estudantes e seus familiares.
A Polícia Civil informou que a Delegacia de Laranja da Terra está conduzindo a investigação, mas detalhes sobre o andamento do inquérito não serão divulgados no momento.