BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – As últimas férias dos argentinos foram dominadas por três temas: as praias, os preços mais baratos e a facilidade dos pagamentos por Pix no Brasil. Tanto que, agora, esse método de pagamento deve se tornar mais comum na Argentina.
Isso porque o Mercado Pago comunicou nesta terça-feira (4) que habilitou pagamentos nessa modalidade em suas maquininhas em comércios de toda a Argentina. O anúncio ajuda os comerciantes e também os turistas brasileiros, que dessa maneira poderão fugir das taxas de compras internacionais cobradas no cartão de crédito.
O método já era usado no país há pelo menos um ano devido a uma tecnologia blockchain criada pela empresa argentina KamiPay.
Agora, a empresa ganha um gigante competidor, e seus interlocutores falam sob reserva que “ainda estão processando essa notícia”, ainda que soubessem que o Mercado Pago já há algum tempo buscava uma solução para entrar nessa seara de vez.
Pelo KamiPay, os argentinos também podiam pagar com Pix no Brasil, com dinheiro que saia diretamente de suas contas, em pesos, e chegava para o consumidor final em reais. A possibilidade habilitada agora pelo Mercado Pago vale apenas para brasileiros no país vizinho.
Com levantamento que fez junto a seis bancos digitais argentinos que usam sua tecnologia, a KamiPay calculou que os argentinos gastaram cerca de US$ 8 milhões por dia no Brasil no mês de janeiro com o Pix. Foram cerca de 9 milhões de pagamentos nessa modalidade em todo o mês, com média de US$ 26,6 por cada transação.
“Do lado dos empreendedores argentinos, a solução permite atrair mais clientes do Brasil, sobretudo, durante um dos períodos de alta temporada de turismo no país, em fevereiro”, disse o Mercado Pago em comunicado que disparou nesta terça-feira.
“Além de oferecer um retorno instantâneo das vendas, onde o comerciante recebe o dinheiro na hora em sua conta do Mercado Pago, além de custos mais baixos por transação”, acrescentou a companhia.
Diferentemente do Brasil, na Argentina pagamentos em dinheiro ainda são muito comuns, inclusive para turistas, que por vezes têm de sair de lojas de câmbio com bolos de notas. Com o recente aumento dos preços no país, tornou-se frequente que os turistas troquem dinheiro com cada vez mais frequência quando notam que o valor reservado não cobrirá todas as despesas. O Pix também ajudará nesse sentido.
Brasileiros são a principal nacionalidade que visita a Argentina por turismo, mesmo em meio a uma queda geral no setor impulsionada pela alta dos preços e pelo encarecimento da moeda local. Eles compõem cerca de 22% dos turistas que chegam ao país.
Somente em dezembro, 131 mil brasileiros visitaram a Argentina, um aumento de 14,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A alta recuperou três meses consecutivos de quedas nessa fluxo. Enquanto isso, turistas de outros países vizinhos como Uruguai e Chile vão muito menos à Argentina devido aos preços.
O Mercado Pago já é a plataforma que hoje possibilita aos próprios argentinos um pagamento instantâneo semelhante ao Pix para os brasileiros. Para aqueles que têm uma conta digital no aplicativo, é possível pagar por meio de códigos QR em comércios, de restaurantes a mercados e farmácias. Alguns estabelecimentos também oferecem descontos para os que pagam com essa modalidade.
A Argentina atravessa meses de uma profunda mudança em sua política econômica que alterou a vida dos locais e esbarrou também no turismo. A inflação mensal terminou o ano em 2,7% após uma rígida política de ajuste adotada pelo presidente Javier Milei.
O consumo despencou, e começa a se recuperar aos poucos. Mas os exemplos ficam: o consumo de carne bovina no país conhecido pela qualidade de seus cortes foi o mais baixo dos últimos 22 anos.
O consumo por habitante (em torno de 47,7 quilos no ano) foi 9% menor que o do ano anterior e se tornou o mais baixo desde o início da medição da Câmara de Indústrias e Comércios de Carne, no ano de 1914. Sem poder de compra, os argentinos trocaram a carne bovina pelo frango.