Uma mulher foi presa preventivamente e virou ré na Justiça do Espírito Santo acusada de extorquir e aplicar um golpe de estelionato contra um mecânico de 70 anos, em Colatina, no Noroeste do estado. A vítima, segundo o Ministério Público e a Polícia Civil, perdeu R$ 600 mil após acreditar que a mulher estava com câncer e precisava de ajuda financeira para custear o tratamento com medicamentos de alto custo.
A investigação aponta que os dois mantiveram um relacionamento amoroso ao longo de 2024. De acordo com a família do idoso, o homem acreditava estar ajudando uma companheira em situação delicada de saúde. Para isso, chegou a sacar todas as economias guardadas em uma poupança e contraiu empréstimos em seu nome. A defesa da mulher nega as acusações.
O impacto financeiro e emocional teria levado o idoso a tirar a própria vida. A Justiça entendeu que a mulher explorou a vítima por vários meses, de forma deliberada e premeditada, utilizando-se do afeto construído entre os dois.
Além do caso em Colatina, a acusada já havia sido condenada definitivamente por um crime semelhante em Marilândia, também no Noroeste capixaba, onde enganou outra pessoa idosa para obter dinheiro. A prisão atual foi decretada durante o andamento do novo processo.
Estelionato sentimental em crescimento
A delegada Milena Girelie, da Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa (DEPPI), responsável pela investigação, explicou que o caso é um exemplo de estelionato sentimental, crime que tem se tornado cada vez mais frequente no Espírito Santo. Segundo ela, ao menos um boletim de ocorrência relacionado ao chamado “golpe do amor” é registrado por semana no estado.
— É um abuso financeiro, mas acima de tudo uma fraude emocional. Muita gente se pergunta como é possível cair em algo assim, mas são meses de envolvimento, de um relacionamento forjado, que acaba cativando emocionalmente a vítima — afirmou a delegada.
Como atuam os golpistas?
A maioria desses crimes é cometida por meio da internet, especialmente em redes sociais e aplicativos de namoro. Segundo a polícia, os criminosos costumam se passar por pessoas influentes, como empresários ou líderes religiosos, e criam vínculos afetivos com as vítimas, geralmente mais velhas e vulneráveis. Depois de algum tempo de conversa e suposta intimidade, iniciam os pedidos de ajuda financeira.
— Essas pessoas usam as informações que a própria vítima publica nas redes. Se ela posta que é religiosa, que viaja muito ou que está passando por dificuldades, o golpista adapta o discurso para conquistar confiança. A internet virou uma ferramenta poderosa para esses criminosos — alertou Girelie.
Como se proteger?
A delegada orienta que os usuários evitem compartilhar dados pessoais com desconhecidos e desconfiem de pedidos de dinheiro feitos por pessoas com quem nunca se encontraram pessoalmente. Também é importante prestar atenção em sinais de declarações rápidas de amor ou apelos emocionais intensos logo no início da conversa.
— A pandemia mudou nosso comportamento digital, mas precisamos manter a cautela em qualquer idade. Não é vergonha desconfiar, é uma forma de proteção — destacou.
Indenização e responsabilização
A delegada ainda lembrou que, no mês passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu oficialmente o estelionato sentimental como passível de indenização moral e material. Isso significa que, além de responder criminalmente, os acusados podem ser obrigados a devolver o valor obtido por meio do golpe.
No caso de Colatina, se a ré for condenada, poderá ter que ressarcir os valores extorquidos da vítima e indenizar a família pelos danos causados.