A notícia de que o atual prefeito da Serra não disputaria a reeleição pegou muita gente de surpresa e deu margem para várias especulações, que logo foram esclarecidas pelo próprio prefeito, na convenção do PDT realizada no mês passado. Vidigal afirmou que estava abrindo mão de mais um mandato para cuidar da pessoa que cuidou dele por uma vida inteira, a esposa Sueli Vidigal, diagnosticada com câncer. Com a saída do atual prefeito, entra em cena o secretário de governo e homem de extrema confiança de Vidigal: o jovem Weverson Meireles.
Mas, a política do município tem outros emblemáticos personagens, como o ex-prefeito Audifax Barcelos, o vereador Igor Elson e o deputado Pablo Muribeca, todos de olho na cadeira de Sérgio Vidigal e que retiram a obviedade da disputa. Vamos analisar a realidade política e os mistérios que movimentam o maior município da Grande Vitória, vejamos:
WEVERSON MEIRELES: “Precisamos unir lideranças para fazer todo diálogo em defesa da continuidade do desenvolvimento da Serra, não só da gestão Vidigal, mas do crescimento da Serra”. Esse foi parte do discurso de Weverson Meireles na convenção do PDT. Formado em Administração e com 33 anos, o jovem pedetista e pupilo do prefeito não perdeu tempo e como franco-atirador, aceitou prontamente o desafio. Já Sérgio Vidigal puxou a responsabilidade e colocou na mesa seus ativos políticos construídos ao longo dos seus 35 anos de vida pública. Agora, como introduzir a jovem promessa no mercado político da Serra e como transferir boa parte dos 91.931 votos recebidos no segundo turno das eleições municipais de 2020? O episódio envolvendo o filho do prefeito, Eduardo Vidigal, trouxe outras interrogações que podem minar as pretensões de Weverson e atrapalhar os planos do pai. Dudu Vidigal, como é conhecido, afirmou que não concordava com a escolha do partido e que o escolhido não era conhecido na cidade: “Eu preciso me identificar com o candidato e desde o momento que começou a fazer esse movimento (de lançamento de Weverson), eu me posicionei contrário, mas a maioria decidiu por ele. O nome não é competitivo, é uma pessoa que não é conhecida na cidade”, disparou.
Pelo visto, a primeira barreira do pedetista é convencer seus correligionários mais próximos do prefeito, um caminho sinuoso quando o assunto é política. O problema é que essa barreira pode atrapalhar quem realmente precisa ser convencido: o eleitor.
AUDIFAX BARCELOS: O homem que governou a Serra por três mandatos está de volta para tentar manter a alternância com Sérgio Vidigal, uma dinastia política que perdura desde 1997. A pergunta é: “Qual Audifax vai disputar as eleições deste ano, o ex-prefeito, o ex-deputado federal ou o ex-candidato a governador do Estado”? Estaria Audifax no processo de encolhimento, devido ao seu desempenho na última pesquisa divulgada pelo Instituto Futura e encomendada pela Folha Vitória, onde aparece em terceiro lugar? Muita gente aposta que o processo de “achatamento” de Audifax foi startado nas eleições de 2022, com o seu baixo desempenho na disputa para o governo, ficando em quarto lugar, com 6,51% dos votos válidos (135.512). O que cacifaria uma suposta volta de Audifax ao comando da prefeitura da Serra? As entregas dos seus oito anos consecutivos (2013/2020), sofreram um hiato de quatro anos e ganharam contornos diferentes da atual gestão. Obviamente, não caíram no esquecimento, mas o deixaram na quarta posição no primeiro turno das eleições de 2022, bem atrás de Manato e Casagrande.
Ciente disso, ao saber da desistência do prefeito, Audifax se colocou à disposição para dialogar com Vidigal, conforme noticiou os tablóides capixabas: “Me coloco à disposição do prefeito Sérgio Vidigal para dialogar sobre os desafios atuais e futuros de nossa cidade”.
Herdar o capital de Sérgio Vidigal é outra tarefa confusa para o pré-candidato do PP, afinal, o Audifax de hoje está a dezesseis anos do lado oposto de Vidigal. A pergunta que precisamos fazer nesse momento, conforme supracitado, é: “Qual Audifax vai disputar as eleições da Serra deste ano”? Quando a cortina da realidade é recolhida e o palco iluminado, o eleitor costuma descobrir rapidamente quem é quem na corrida do “poder”, mostrando que os galhos da conveniência são fracos e não se sustentam por muito tempo. Daí, nomes promissores se perdem e são cada vez mais envolvidos pelo voraz processo eleitoral.
SÉRGIO VIDIGAL: Ninguém pode duvidar do ato nobre do prefeito em se dedicar a sua companheira, seria rasteiro qualquer especulação nesse sentido. Entretanto, é necessário acompanhar o transcorrer da decisão de não disputar a reeleição. Estaria a população da Serra disposta a dar o quinto mandato a Sérgio Vidigal? Os 24,5% apresentados na última pesquisa (encomendada pela Folha Vitória) seriam o teto do prefeito? E os 18,5%, de rejeição, são ponto de alerta? A prévia tabulação desses números mostra que o prefeito não chegou com aquele tamanho intimidatório, capaz de transformar o próximo pleito num mero processo protocolar, o que lá na frente pode forçá-lo a refazer seus cálculos e mudar sua rota, ainda mais se Weverson Meireles continuar entre os últimos colocados na disputa, com apenas 0,9%. Porém, outro perigo paira sobre o pomar do prefeito: o tempo. Dependendo de como e quando, a decisão de entrar novamente na disputa pode ser tarde demais, um caminho difícil de ser reconstruído, porque a política é muito ligeira na esteira dos acordos. Daí, uma recomposição tardia pode comprometer ambos os projetos e facilitar a vida dos adversários.
Politicamente, a decisão pode ser considerada um flerte com o abismo, um blefe ou uma precipitada narrativa, desde que não duvidemos da nobreza do marido, pai e prefeito, dono de uma longa biografia com o município da Serra e com o povo serrano.
Vidigal é um exímio jogador e, se tratando da Serra, ninguém melhor do que ele para saber a hora exata de recuar e avançar.
PABLO MURIBECA: O homem do chapéu marcou 10,4% nas pesquisas (Instituto Futura, encomendada pela Folha Vitória), figurando em segundo lugar na preferência do eleitor da Serra, uma ótima largada para um estreante. O deputado estadual do Republicanos tem sido uma pedra no sapato do prefeito Sérgio Vidigal, com ações que buscam expor as deficiências da gestão, principalmente na saúde, o que gerou troca de acusações e processos judiciais. O postulante também tem menor rejeição que Vidigal (18,5%) e Audifax (23%), o que cacifa sua pré-candidatura.
Seria o republicano o encaixe perfeito da fissura política entre Vidigal e Audifax? Será que a população da Serra cansou da alternância de quase 30 anos entre Vidigal e Audifax? É cedo para responder esses dois práticos questionamentos, mas uma coisa não podemos negar: surgiu um novo fator na Serra e com tamanho relevante para surpreender o cômodo discurso de continuidade. É bom Vidigal olhar para as eleições de 2022, para governador do Estado, onde quase todos os Institutos de Pesquisas e vários analistas apontavam para vitória de Renato Casagrande ainda no primeiro turno, o que não aconteceu.
Destarte, também fica a lição para o deputado Pablo Muribeca, é preciso cientificar suas pretensões e lá na frente encorpar suas propostas, porque a disputa municipal exige mais do que acordos e troca de acusações, exige projeto e um bom time para sua execução, a começar pelo seu próprio partido, que precisa assumir de uma vez por todas a sua pré-candidatura, dando a ele musculatura institucional e política para que ele conquiste a confiança da maioria do eleitorado que precisa ver nas suas propostas capacidade de gerir o município com maior PIB do Estado (20,01% de todo Produto Interno Bruto), que gera riquezas de R$ 37,27 bilhões anuais e a 30ª economia brasileira em comparação com todos os municípios do país.
O homem do chapéu está no páreo e tem uma avenida aberta e iluminada pela frente, é só observar o limite de velocidade e não subestimar os imperdoáveis flashes dos escondidos radares.
IGOR ELSON: O pré-candidato do PL tem a missão de unir a direita do município da Serra, que em 2022 concedeu 140.048 votos para Bolsonaro, contra 123.629 votos (46,89%) para Lula. No entanto, grande parte dessa mesma população confiou a Casagrande 148.813 votos (57,64%), contra 109.347 para Manato (42,36%).
Igor Elson foi eleito vereador da Serra em 2020, com 2.151 votos pelo Podemos. Em 2022 migrou para o PL e concorreu para deputado estadual, obtendo 9.580 votos, sendo 5.046 no seu principal reduto eleitoral (Serra). Ou seja, Igor conseguiu aumentar seu eleitorado em mais de 50%, agora é ir atrás daqueles que se declaram de direita e converter essa busca em votos, uma tarefa mais complexa, porque o voto purista não é uma realidade nas eleições municipais. Aliás, a direita precisa personalizar suas estratégias e seus objetivos, pois o que temos até o momento são várias facetas da direita e com vários postulantes, cada um com seu grupo definido, o que enfraquece as composições internas e externas. Uma coisa é certa, o pragmatismo partidário está descartado para o pré-candidato do PL, que acredita na força do bolsonarismo contra a “dinastia” de Vidigal e Audifax.
Não é bom subestimar ninguém na disputa, ainda mais quem tem mandato de vereador, conhece a cidade e sabe penetrar no público destro. A bateria bolsonarista desfilará pelas ruas da Serra, resta saber quem vai ouvir a melodia e entender a letra.
Enfim, a Serra está diante de dois gestores bastante conhecidos (Vidigal e Audifax) e com modelos sinóticos de gestão. No meio do percurso surgiu o fator Weverson Meireles, homem de confiança de Vidigal. Contudo, existe Pablo Muribeca, o segundo colocado nas pesquisas, e o representante do PL Igor Elson, que promete passar a Serra a limpo no viés conservador.
Os ventos de lá são fortes, os mistérios travestidos de segredos e os desfechos para lá de exatos. A política está se tornando uma matéria cada vez mais previsível, calculada e com contornos óbvios, uma soma tão básica capaz de iludir qualquer idiota com autoestima.