Dois pescadores, pai e filho, passaram nove dias à deriva no mar capixaba após a embarcação em que estavam apresentar falhas e afundar na região de Jacaraípe, na Serra, na Grande Vitória. O ponto do naufrágio fica a quase 140 quilômetros do local de onde partiram, no município de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. O resgate aconteceu no último domingo (23).
Um terceiro integrante da tripulação, identificado como Saite Simões Gabriel, natural de Marataízes, desapareceu após se lançar ao mar na tentativa de buscar socorro. Até a última atualização, ele ainda não havia sido localizado.
O trio saiu para pescar no dia 12 de março, partindo do Porto de Itaipava, em Itapemirim. No sábado seguinte (15), a embarcação sofreu uma pane, deixando o grupo à deriva até quinta-feira (20), quando o barco afundou por completo.
O resgate de pai e filho ocorreu no domingo (23), quando uma outra embarcação passou pelo local e avistou os dois no mar. Um vídeo feito pelos tripulantes mostra a proa e parte da estrutura do barco ainda flutuando.
Os dois pescadores resgatados estavam debilitados e foram encaminhados a um hospital na Serra, onde permanecem internados.
Em um áudio gravado após o resgate, o pai relatou que o naufrágio ocorreu a cerca de 26 milhas náuticas da costa, o equivalente a aproximadamente 42 quilômetros. Ele contou que o barco virou por volta de 1h da manhã e que estavam exaustos no momento do acidente. “Meu filho nem sabe como chegou aqui. Foi encontrado sem noção de nada”, relatou.
Antes do afundamento total da embarcação, na sexta-feira (21), Saite Simões avisou que tentaria buscar ajuda. No dia seguinte, pulou no mar apoiado em uma tábua e não foi mais visto. Segundo os sobreviventes, ele estava desorientado e a temperatura da água era baixa.
Familiares de Saite informaram que ele era um pescador experiente, com mais de 40 anos de atuação na pesca, iniciada ainda na infância. Eles relataram surpresa com a atitude do pescador, já que ele costumava afirmar que, em caso de naufrágio, permaneceria próximo ao barco. Agora, a família tenta entender o que o motivou a se afastar.
Glaucia Vasconcelos, filha mais velha de Saite, expressou a angústia vivida desde o desaparecimento. Segundo ela, a família foi informada de que o pescador ficou três dias tentando resistir, mas não suportava mais. “Faltavam 26 milhas para a terra e ele desapareceu”, disse.
Ela relatou ainda a dificuldade de obter informações. “Ligo o tempo todo para a sala de rádios e ninguém sabe de nada”, contou.
Glaucia também questionou a estrutura da embarcação e quem estava no comando no momento do acidente. “Sabemos apenas que ele saiu para o mar no dia 12 e que o barco aparentemente não tinha aparelho de rádio para contato com a terra. É desesperador. Estamos falando de uma vida. Meu pai é um homem trabalhador, pai de quatro filhos, avô de cinco netos. Sempre viveu da pesca. É uma dor imensa”, desabafou.
Capitania dos Portos realiza buscas
A Marinha do Brasil informou que recebeu a notificação sobre o naufrágio da embarcação “Ana Júnior” no domingo (23), quando a tripulação do barco “Xexéu Pescados”, que navegava próximo ao local, realizou o resgate dos dois pescadores.
Com o desaparecimento de Saite, a Capitania dos Portos do Espírito Santo acionou sua equipe de busca e resgate (SAR), além do Navio de Socorro Distrital e do Navio-Patrulha Oceânico, para auxiliar nas buscas.
A Marinha também informou que será aberto um inquérito administrativo para investigar as causas, responsabilidades e circunstâncias do ocorrido.
A corporação reforçou a importância da colaboração da população, que pode acionar os serviços de emergência marítima pelo telefone 185, ou entrar em contato com a Capitania dos Portos do Espírito Santo pelo número (27) 2124-6526.