Um professor de Química que utilizou a mesma lanceta — pequena agulha de aço estéril, de uso único — para coletar sangue de 44 alunos durante uma aula no Espírito Santo pode ser responsabilizado por expor os estudantes ao perigo. A informação foi divulgada pelo delegado-geral da Polícia Civil do estado, José Darcy Arruda. O caso ocorreu em uma escola de Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo, na última sexta-feira (14).
“Inicialmente, a conduta se enquadra como exposição ao perigo, um crime classificado como de perigo comum devido à prática realizada”, afirmou Arruda.
Os nomes do professor, da escola e dos estudantes envolvidos não foram divulgados para preservar a identidade dos adolescentes.
A abertura de um inquérito policial foi determinada após denúncias feitas pelos responsáveis dos alunos. O material utilizado durante a aula foi recolhido e está sendo analisado pelas autoridades.
O crime de exposição ao perigo está previsto no Código Penal brasileiro e se refere à exposição direta e iminente da vida ou saúde de outra pessoa a riscos. A pena para essa infração varia entre três meses e um ano de detenção.
No entanto, conforme explicou o delegado-geral, ainda é necessário avançar nas investigações para definir possíveis autuações. Todos os envolvidos serão ouvidos no decorrer do inquérito, incluindo o professor, os alunos e a direção da escola.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou que acompanha o caso por meio da Notícia de Fato instaurada junto à Polícia Civil. A definição da tipificação penal dependerá da evolução das investigações e dos laudos médicos que ainda estão sendo aguardados.
Em nota, o MPES afirmou ter sido informado sobre o ocorrido na sexta-feira, por meio da Promotoria de Justiça de Laranja da Terra. O órgão entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para acompanhar as medidas adotadas e garantir que todas as providências necessárias fossem tomadas para proteger os alunos.
Professor foi demitido
O professor responsável pela aula foi desligado da função e o caso foi encaminhado à corregedoria da Secretaria de Estado da Educação (Sedu). Ele havia sido contratado para atuar na rede estadual de ensino neste ano.
Em nota divulgada nesta terça-feira (18), a Sedu declarou que a atividade foi realizada sem autorização da coordenação pedagógica.
‘Ele é o professor, sabe o que está fazendo’
Uma aluna de 16 anos, que participou da aula, relatou que os estudantes aceitaram o experimento porque confiavam no professor. Segundo ela, as atividades ocorreram entre os dias 7 e 14 de março e envolveram quatro turmas.
“Era mais uma aula, mas a gente não sabia exatamente o que aconteceria. Ele explicou tudo na hora: ‘Vou furar o dedo de vocês para que possam ver o sangue no microscópio’. Naquele momento, pensamos: ‘Ele é o professor, sabe o que está fazendo'”, contou a estudante.
O que aconteceu
Quarenta e quatro estudantes de uma escola estadual de Laranja da Terra participaram de uma atividade prática sobre identificação de tipos sanguíneos, na qual compartilharam a mesma agulha para coletar sangue. Após o ocorrido, todos foram encaminhados ao hospital para exames médicos que verificassem possíveis infecções.
Os alunos pertencem às turmas da 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e têm entre 16 e 17 anos.
Médicos alertam que o compartilhamento de seringas e agulhas representa um alto risco para a transmissão de doenças infecciosas, como HIV e hepatites B e C.
O posicionamento das autoridades
Em uma atualização divulgada nesta terça-feira (18), a Sedu informou que foram realizados exames complementares para avaliar a imunidade contra hepatites B e C. O órgão afirmou que os alunos estão bem e frequentam as aulas normalmente. Reforçou ainda que a atividade foi realizada sem autorização da coordenação pedagógica.
Para garantir o acompanhamento adequado dos estudantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) se reuniram para definir os protocolos a serem seguidos. Novos exames serão feitos dentro de 30 dias.
Além disso, a escola promoveu um encontro com pais e alunos, com a participação de representantes da Semus, para prestar esclarecimentos sobre o caso.
Os estudantes estavam participando de uma aula de Práticas Experimentais em Ciências, cujo tema era a observação de células sanguíneas. A atividade foi conduzida pelo professor de Química, sem autorização prévia da coordenação pedagógica.
Assim que tomou conhecimento do ocorrido, a Sedu afirmou ter adotado todas as medidas necessárias.
Nesta terça-feira (18), a Secretaria informou que 44 alunos teriam passado por testes, enquanto a Semus mencionou um total de 43, conforme divulgado anteriormente. O g1 questionou as instituições sobre a divergência, mas a diferença não foi esclarecida.