A pouco mais de um ano das eleições de 2026, o cenário político capixaba começa a ganhar contornos de disputa majoritária. Entre os nomes cogitados para concorrer ao Governo do Estado, dois prefeitos se destacam Arnaldinho Borgo, de Vila Velha, e Lorenzo Pazolini, de Vitória.
Se a decisão for entrar na corrida pelo Palácio Anchieta, ambos terão que pagar um preço considerável: “Renunciar aos seus atuais mandatos até abril de 2026, conforme prazo estabelecido pelo Art. 14, § 6º, da Constituição Federal para Chefes do Executivo (Presidentes, Governadores e Prefeitos) que queiram disputar outro cargo”.
O tempo, embora pareça distante, já começou a apertar no calendário político.
A conta da renúncia
A decisão de deixar o comando de duas das maiores cidades da Grande Vitória para entrar em uma eleição estadual carrega um custo político bastante elevado. Além de abrir mão da cadeira antes do término do mandato, Arnaldinho e Pazolini entregariam o controle da máquina municipal a “seus” vices, correndo o risco de mudanças políticas e administrativas que podem impactar a imagem do trabalho construído por ambos até aqui.
Cael Linhalis (PSB) e Cris Samorini (PP)
Uma das perguntas que mais necessitam de respostas é sobre a profundidade política entre Arnaldinho Borgo e o vice-prefeito de Vila Velha, Cael Linhalis. Até hoje, parte da cidade não compreendeu bem essa composição. O prefeito já declarou que optou pela experiência administrativa de Cael e pela continuidade da parceria com o governador Renato Casagrande.
No entanto, como ficaria essa parceria numa possível renúncia do prefeito para disputar o governo? E mais, como seria essa pactuação caso existam traços litigiosos com o decorrer do processo? Como seria essa condução política e administrativa com a caneta nas mãos de Cael Linhalis?
Outra prova para o vice-prefeito seria a manutenção da avaliação positiva da gestão e da governabilidade na Câmara dos Vereadores. Ele teria um enorme desafio pela frente para manter essa relação institucional com o experiente Legislativo municipal, canela-verde.
Sobre Pazolini, pesam perguntas sinóticas, tendo em vista que o PP, partido da vice-prefeita Cris Samorini, faz parte do governo Casagrande, com Marcos Aurélio Soares da Silva, titular da Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb) desde o início do ano, indicado pelo presidente da sigla, deputado federal Da Vitória.
Como ficaria essa relação entre o PP e o prefeito pós-renúncia? A reconfiguração do cenário político não causaria prejuízos para Pazolini? Qual o tamanho de Cris Samorini dentro do PP e como ela costuraria para ter protagonismo ou vida própria dentro do impiedoso processo político? O PP ficaria em qual palanque: no governo ou com Pazolini sem mandato?
Essas interrogações acima colocam sob os ombros dos postulantes responsabilidades gigantescas, como poder de composição, diálogo e elasticidade política em todas as regiões do Estado.
Assim, Arnaldinho e Pazolini vão precisar de garantias que vão além dos acordos e da relação com “seus” vices, tudo isso pós-renúncia, sem a batuta do mandato.
Já dizia o velho e provocativo ditado: “No poder, portas abertas. Fora do poder, portas fechadas”.
O peso da disputa
Outro ponto que deve ser ponderado é a dimensão da disputa para o governo estadual, que é uma das mais complexas do calendário eleitoral e exige estrutura partidária sólida, alianças estratégicas, capilaridade no interior do Estado e uma narrativa política capaz de conquistar diferentes nichos do cada vez mais diversificado eleitorado.
Tem a transição do discurso municipal para estadual, que também precisa ir além da vitrine administrativa das cidades, sendo necessário saber e conhecer a realidade das regiões mais distantes e os problemas singulares que afligem o cidadão nos rincões do Estado, como saúde, segurança e as demais agendas econômicas e sociais. No entanto, essas pautas ganhariam contornos amplificados e estendidos para os outros 78 municípios capixabas que perpassam os limites dos municípios.
Olhos da oposição e da situação
Tanto a base do atual governador quanto a oposição monitoram de perto os movimentos dos prefeitos. A renúncia de Arnaldinho e Pazolini pode redefinir alianças, criar outros caminhos e até alterar a configuração das chapas proporcionais, terremoto de magnitude curta, média ou longa, que não tem como mensurar seus efeitos.
Enfim, o relógio político já está correndo e, se confirmarem a intenção de disputar o governo, os dois terão de acelerar negociações, aumentar a presença no interior e construir discursos que vão além das realizações municipais. Afinal, em uma eleição estadual, o peso da decisão pode ser tão grande quanto a vontade de disputar.
PS: Segue o cronograma eleitoral 2026 para prefeitos que pretendem disputar o governo, baseado na legislação eleitoral vigente:
* 04 de abril de 2026: Data limite para prefeitos e vice-prefeitos renunciarem aos cargos, caso pretendam disputar outro mandato no Executivo (governador) ou cargos no Legislativo Federal/Estadual.
* 06 de julho de 2026: Início das convenções partidárias para definição das candidaturas e coligações.
* 20 de agosto de 2026: Prazo final para registro de candidaturas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES).
* 16 de agosto de 2026: Início oficial da campanha eleitoral.
* 06 de outubro de 2026: Primeiro turno das eleições.
* 27 de outubro de 2026: Segundo turno (se necessário).