SEUL, COREIA DO SUL (FOLHAPRESS) – Um alarme disparou em todos os celulares com números de Seul na noite de quarta (4), manhã no Brasil, inclusive no aparelho usado pelo enviado da Folha de S.Paulo, alertando para a paralisação parcial do metrô no dia seguinte.
A greve vinha em preparação semanas antes da tentativa de autogolpe promovida na terça (3) pelo presidente Yoon Suk Yeol, mas acabou se somando às reações da sociedade à frustrada manobra do chefe do Executivo.
O sindicato do transporte público divulgou nota dizendo que, além da reivindicação de recontratar demitidos e abrir mais vagas de trabalho, tratava-se agora uma “greve contra o regime de Yoon”.
A reportagem passou cerca de quatro horas no metrô nesta quinta, nas linhas 1 e 3, as mais visadas pelos grevistas –junto com os trens regulares e de alta velocidade, fora da capital.
A longa espera era inusitada na estação Jongno 3(sam)-ga, onde as duas linhas se encontram, mas uma passageira disse que o número elevado de pessoas na plataforma era comum para o horário. Outro, posteriormente, afirmou ter esperado 15 minutos na linha 1, descrevendo como acontecimento bizarro.
O alvo político original do movimento era o prefeito de Seul, Oh Se-hoon, aliado de Yoon e possível alternativa a ele no Partido do Poder do Povo. Agora, os manifestantes miram toda a legenda. Houve reunião de negociação na tarde desta quinta, sem acordo.
A expectativa é de que a paralisação se amplie na sexta (6), véspera da votação do pedido de impeachment de Yoon, proposto pela oposição. A greve não deve se limitar ao transporte público, aproximando-se de um movimento generalizado. Entre as fábricas ameaçadas está a montadora Hyundai.
A tensão prosseguiu mais um dia, com o anúncio de investigações da Procuradoria e da polícia contra o presidente. Em sinal de resistência, Yoon rejeitou o pedido de demissão que havia sido apresentado pelo ministro da Defesa, Kim Yong-hyun. Argumentou que o país está sob ameaça à segurança nacional.
Também na quinta, autoridades americanas, que vinham evitando questionar o presidente, um dos principais parceiros dos Estados Unidos na região, passaram a elevar o tom crítico à tentativa de autogolpe.
O subsecretário de Estado Kurt Campbell, responsável pela forte aproximação com Yoon, declarou num evento que a reação da população sul-coreana à frustrada imposição da lei marcial era “um símbolo poderoso de que as pessoas estavam preparadas para deixar claro que este foi um processo profundamente ilegítimo”.