No ambiente onde deveria se sentir segura, a servidora pública Malucy Silva viveu um dos momentos mais traumáticos da sua vida. Durante a rotina de trabalho, ela passou a ser alvo de assédio por parte de um colega. “Ele alisava meus braços, beijava minha cabeça, cheirava meu cabelo para saber se eu estava cheirosa. Fazia elogios fora de hora”, relatou.
Ao perceber que estava sendo vítima de assédio, Malucy conta que se sentiu sozinha e impotente. Apesar do medo, decidiu enfrentar a situação e questionar diretamente o agressor. “Bati a mão na mesa e perguntei: ‘Por que você faz isso? Você gostaria que fizessem isso com sua filha ou com sua esposa?’. Ele respondeu que não. Então questionei novamente: ‘Por que faz isso comigo?’ E ele disse: ‘Você nunca falou nada’. Mas eu sempre demonstrava reprovação no olhar, fechava a cara, e parecia que isso piorava ainda mais”, desabafou.
Casos como o de Malucy não são isolados. No serviço público, o número de denúncias de assédio e discriminação tem aumentado de forma expressiva. De acordo com a Controladoria-Geral da União (CGU), foram 857 denúncias registradas em 2019. Anos depois, esse número ultrapassou 5 mil casos — um aumento de quase 500%.
Diante desse cenário, o governo federal lançou um programa de enfrentamento ao assédio e à discriminação no serviço público. A iniciativa prevê suporte às vítimas e garante um canal seguro para denúncias, sem risco de retaliação.
A especialista em prevenção de assédio, Michelle Heringer alerta que casos de assédio e discriminação pode resultar em penalidade administrativas, civis e até criminais. “Do ponto de vista administrativo pode haver rescisão do contrato de trabalho, também pode haver alguma penalidade envolvendo o agente que praticou essas ações. E do ponto de vista criminal só teria como o agente responder se envolver casos de assédio sexual”, esclareceu a especialista.
A CGU reforça que qualquer pessoa pode registrar uma denúncia de forma anônima por meio do site da ouvidoria oficial. Além dos danos emocionais, em muitos casos as vítimas precisam se afastar do trabalho para cuidar da saúde mental e física — direito garantido por lei.