O estudante Lucas Pancini, de 16 anos, teve a vida interrompida de forma trágica no dia 16 de setembro, ao ser atropelado na BR-101, próximo ao Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), em Viana. O jovem, descrito pela família como dedicado, inteligente e temente a Deus, era aluno exemplar e participava de projetos de pesquisa e teses de doutorado no campus onde estudava. Segundo Geisa Pancine Braz, mãe de Lucas, o rapaz sonhava em seguir carreira acadêmica e se destacava pela responsabilidade e alegria no dia a dia. “Todas as lembranças, desde acordar de manhã cedo até sair para a escola, são boas”, contou, emocionada.
O acidente aconteceu no bairro Universal, em um ponto conhecido pela comunidade pelo alto risco de atropelamentos. Lucas foi atingido quando seguia para o ponto de ônibus após sair da escola. A diretora-geral do IFES de Viana, Regiane Teodoro Souza, classificou o caso como uma “tragédia anunciada”. Desde 2015, quando o campus foi inaugurado, a instituição enviava ofícios à concessionária Ecovias Capixaba e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), solicitando a construção de uma passarela para garantir a segurança dos estudantes, mas nunca obteve resposta positiva. “Desde o início, identificamos essa falta de segurança na travessia dos nossos estudantes. Não tivemos nenhum retorno positivo”, afirmou.
A falta de uma faixa de pedestres adequada e a ausência de uma passarela no trecho também são queixas antigas dos moradores e vereadores da região. O parlamentar de Viana, Wesley Pires, disse que cobra a construção da estrutura desde 2020. “Tive reunião com a Eco [101], fiz indicação, ofício, falaram que o problema era com a ANTT por causa de contrato, fui à Brasília conversar com deputados federais e senadores. E infelizmente nada foi resolvido”, lamentou.
Moradores confirmam o perigo e afirmam que, por falta de opção segura, muitos acabam atravessando a rodovia em meio aos veículos. “É muito perigoso. Várias pessoas já morreram aqui”, relatou o estudante, Mateus Ribeiro Moreira.
Mesmo sob concessão da Ecovias Capixaba, a BR-101 que corta o Espírito Santo está entre os trechos mais letais do país. Segundo dados da própria empresa, em 2024 foram registrados 3.032 acidentes e 89 mortes. De acordo com o chefe da delegacia da PRF de Viana, o Marcel Haase, os trechos ainda não duplicados concentram os acidentes mais graves e fatais. “A pista simples traz uma característica em acidentes um pouco diferente da duplicada porque tem a colisão frontal. E nesses acidentes existe uma gravidade e impacto maior quando ocorre”, explicou Haase.
A duplicação da rodovia, iniciada em 2013, continua atrasada. Passados mais de dez anos, apenas 24% do trecho sob responsabilidade da Ecovias foi entregue. A empresa justificou os atrasos por inviabilidade econômica e disputas contratuais, o que levou à repactuação do contrato em 2024. Pelo novo acordo, a concessionária ficou desobrigada de duplicar áreas consideradas de difícil execução, mas assumiu o compromisso de investir em sinalização, construção de marginais e dispositivos de segurança, além de instalar 40 novas passarelas ao longo de 24 anos.
Sobre o local do atropelamento, a Ecovias Capixaba informou que já iniciou estudos em parceria com a comunidade, a prefeitura e a PRF. Segundo a empresa, será feita a realocação da faixa de pedestres, com instalação de semáforo e radares, e uma passarela deverá ser construída em até um ano. “Lamentamos essa ocorrência que envolveu o estudante do Ifes. Porém, no local, as passarelas que estavam prevista no contrato anterior foram implantadas no trecho. E nesse ponto, para o contrato novo, estão previstas 40 passarelas para serem instaladas ao longo da concessão em 24 ano”, informou o gerente de operações da Ecovias Capixaba, Christian Tanimoto Barros.
Para especialistas, a duplicação e as melhorias estruturais são essenciais, mas a educação no trânsito também precisa ser fortalecida. Enquanto as autoridades prometem soluções, a família de Lucas tenta lidar com a dor e transformar a perda em alerta.