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Von der Leyen chega ao Uruguai, e acordo UE-Mercosul fica próximo da assinatura

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Após alguns dias de mistério, Ursula von der Leyen chegou ao Uruguai. A presença da presidente da Comissão Europeia na cúpula do Mercosul, que ocorre nestas quinta (5) e sexta (6) em Montevidéu, seria sinal inequívoco de que o tratado de livre comércio entre

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Após alguns dias de mistério, Ursula von der Leyen chegou ao Uruguai. A presença da presidente da Comissão Europeia na cúpula do Mercosul, que ocorre nestas quinta (5) e sexta (6) em Montevidéu, seria sinal inequívoco de que o tratado de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia está prestes a sair do papel.

O documento é gestado há mais de duas décadas e criaria um mercado de 750 milhões de pessoas, responsável por um quinto do comércio global.

No começo da semana, porta-vozes da presidente disseram à reportagem que a viagem não estava na programação; sua agenda tampouco mostrava outros compromissos para os dias da cúpula sul-americana. Procurados novamente pela reportagem para atualizar a informação, os assessores não responderam.

A imprensa alemã já descartava sua participação, nesta quinta, quando a própria política anunciou sua chegada ao país sul-americano. “A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Vamos trabalhar, vamos cruzá-la. Temos a chance de criar um mercado de 700 milhões de pessoas. A maior parceria de comércio e investimento que o mundo já viu. Ambas as regiões serão beneficiadas.”

Von der Leyen é defensora do acordo, assim como Alemanha, Espanha, Portugal, Suécia e outros países do bloco. Opõem-se ao tratado a França, maior produtor agrícola da Europa, e países como Polônia, Áustria e Holanda, onde o veto é bandeira da direita e da extrema direita.

A grave crise política na França era levada em consideração, de acordo com analistas, e talvez por isso a presença da UE no Uruguai foi anunciada apenas após a queda do primeiro-ministro, Michel Barnier. Indagada em entrevista coletiva sobre a questão, assessora da Comissão Europeia afirmou que “é normal a presidente fazer consulta a líderes, sobre os diversos assuntos”, mas que ela não poderia confirmar se Von der Leyen havia conversado com o Palácio do Eliseu.

O governo francês sanou a dúvida em publicação no X. “O projeto de acordo entre a UE e o Mercosul é inaceitável tal como está” e isso foi repetido por Emmanuel Macron a Von der Leyen nesta quinta.

Jornalistas também questionaram a razão do mistério sobre a agenda da presidente, fato minimizado pela assessora.

Porta-voz para Agricultura e Comércio, Olof Gill afirmou mais tarde à reportagem que a Comissão Europeia só fará uma proposta de tramitação do tema nas diversas instâncias do bloco “em um estágio mais avançado, se o acordo for assinado”. “Não há também como falar em prazos.”

A ratificação do tratado em Bruxelas é o próximo capítulo complexo da novela. Envolveria a revisão técnica e a votação do documento no Parlamento europeu, nos parlamentos de cada país-membro da UE e nos Legislativos dos sul-americanos. Uma propalada saída seria separar a parte política da comercial. Esta poderia ser aprovada por maioria simples no Parlamento Europeu, sem outros requisitos.

Para evitar a manobra, os franceses teriam que garantir a adesão de ao menos quatro nações a uma dissidência no Conselho de Ministros, o que já existe, e o correspondente a 35% da população europeia, conta que só fecharia com a adesão de um país do porte da Itália. A Comissão tem mandato para negociar tratados comerciais, mas é o Conselho, formado por representantes de cada um dos 27 países-membros, que os avaliza.

Até aqui, a premiê Giorgia Meloni, à frente do terceiro maior exportador da UE para o Mercosul, não estabeleceu uma posição firme sobre participar ou não do grupo de oposição. A economia italiana não foge à regra do continente e também patina neste ano.

O acordo interessa especialmente à Alemanha, que lidera a lista de exportadores do continente. O país, que convive com greves e anúncios de cortes em grandes indústrias há semanas, almeja a redução tarifária para seus carros e produtos químicos. Pelas regras do tratado, 91% dos artigos comercializados ficarão isentos.

A maior parte do que chega à Europa vinda do Mercosul, 32,4%, são alimentos, justamente a preocupação francesa. O tratado prevê cotas de importação, e a parte com tarifa mais baixa corresponde a menos de 2% do consumo europeu. Ainda assim, a França teme uma inundação de produtos mais baratos, como a carne brasileira. A Irlanda, quinto maior produtor mundial, também vê esse aspecto do acordo com preocupação.

Mesmo antes de a Comissão Europeia se pronunciar sobre o tema, fazendeiros franceses já haviam marcado a volta dos tratores às ruas e estradas do país para a próxima segunda-feira (9). As manifestações devem se espalhar por outros países do bloco agora.

O Greenpeace Brasil, em comunicado, declarou que o acordo, se celebrado, “será péssimo para o clima global por comprometer os esforços dos países no enfrentamento à emergência climática e à transição justa”. “Precisamos de acordos comerciais que estimulem a cooperação entre os países, a adoção de novas tecnologias, a transição justa e que apoiem o desenvolvimento das economias e a geração de empregos qualificados no Sul Global.”