A tensão sobre a polarização de 2022 deve se repetir no pleito municipal deste ano, é o que indica as últimas movimentações do cenário político. Contudo, existe uma importante parcela eleitoral que está fora dessa bolha e que precisa ser convencida. Atrevo-me a dizer que é justamente essa parcela que vai decidir o resultado das eleições municipais que se aproximam.
Naturalmente, devemos considerar a polarização e o ponto ideológico, eles serão um dos fatores da disputa eleitoral deste ano, porém, não serão os únicos. Os mais inflamados precisam saber que o voto para presidente é bem diferente do voto para prefeito. Isso porque, na instância nacional, o voto ideológico é mais puro, diferente do voto municipal que envolve outros interesses, perdendo o perfil purista.
Outra consideração relevante é o conceito de maioria, uma conta fácil, mas que não serve para a política, no qual maioria é bem diferente de unanimidade. Por exemplo: a direita pode ser maioria, mas ela já demonstrou ter dificuldades quando o assunto é unicidade. Talvez falte aos líderes da direita interpretar o sentimento do seu variado público, um ajuste estratégico ou uma linguagem mais inclusiva. Aliás, o evento da direita com Bolsonaro trouxe para o cenário político novos personagens, como o ex-ministro e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Já o Partido dos Trabalhadores se repetiu, com o atual presidente e com outras conhecidas figuras.
Destarte, onde descobrir ou como identificar essa camada fora da guerra de narrativas? A última pesquisa eleitoral da capital Vitória (indecisos 39% – Ninguém, branco ou nulo: 6.7%) e da cidade de Vila Velha (indecisos: 30.8% – Ninguém, branco ou nulo: 4.7%) mostrou qual é o tamanho e a importância desse público. Agora, como atrair essa parcela da sociedade e como convencê-la? Não é tarefa fácil decifrar o pensamento de boa parte desse público desespiritualizado e desencantado com a política. Obviamente, não será com truísmo ou com a fala arrumada, porque a cabeça desse eleitorado é um pouco mais analítica e independente, exigindo dos postulantes biografia, criatividade, credibilidade e, acima de tudo, projeto.
Portanto, conforme os números da pesquisa publicada pelo Instituto Futura Inteligência (09/05), encomendada pela Folha Vitória, a eleição da capital tem espaço para outras construções, apesar do perfil ortodoxo do eleitor que, desde a promulgação da PEC da reeleição (04 de junho de 1997), sempre reelegeu seus prefeitos. Já Vila Velha, mesmo com seu histórico de alternância, parece que caminha para o segundo mandato do atual prefeito, que apostou no discurso do voto e movimentou a cidade nos últimos dias com entregas que mexem com a estética e com a estima da população vilavelhense. Entretanto, ainda é muito cedo para comemorar algo e ostentar vantagem, o processo eleitoral é mutável e a cabeça do eleitor é um terreno volátil, principalmente quando a política é pautada pela desconstrução da imagem de ambas as partes.
Assim, esquerda e direita precisam perpassar a bolha ideológica, identificar e atrair esse eleitorado que está na órbita da dúvida, buscando uma opção para confiar o seu voto. Vale ressaltar que nos últimos pleitos esse público surpreendeu muita gente e interferiu em alguns resultados.
A parcela do equilíbrio é silenciosa, não flerta com os extremos e será um grande desafio hermenêutico para os marqueteiros e estrategistas de campanha.
Weverton Santiago