A morte da pequena Sara Raíssa Pereira, de apenas 8 anos, chocou o Distrito Federal e reacendeu o debate sobre os riscos dos desafios virais nas redes sociais. A menina foi vítima do chamado “desafio do desodorante”, uma prática perigosa que circula principalmente no TikTok, em que crianças e adolescentes inalam o spray de desodorante aerossol por tempo prolongado, em busca de reações extremas para gravar vídeos.
O caso aconteceu na última quinta-feira (10), quando Sara foi levada em estado gravíssimo ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), após sofrer uma parada cardiorrespiratória provocada pela inalação do produto químico. A equipe médica realizou os procedimentos de reanimação, mas a menina não reagiu. Três dias depois, no domingo (13), a família recebeu a notícia de que Sara apresentava morte cerebral.
De acordo com relatos de familiares, Sara teria realizado o desafio em casa, sozinha ou na presença de outros menores, após ter assistido a vídeos relacionados à prática na internet. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias da tragédia. O delegado João de Ataliba, responsável pelo caso, afirmou que as investigações visam entender se houve incitação, omissão ou estímulo por parte de terceiros.
“Se for identificado que alguém compartilhou ou promoveu esse tipo de conteúdo com intenção ou negligência, o responsável poderá ser indiciado por homicídio duplamente qualificado. A pena, nesse caso, pode chegar a 30 anos de prisão”, informou o delegado.
Dor e comoção
A notícia da morte precoce de Sara causou comoção na comunidade de Ceilândia, onde ela morava com a família. Com dificuldades financeiras, os parentes iniciaram uma vaquinha on-line para arrecadar recursos e custear o funeral. Em mensagens divulgadas nas redes sociais, familiares descreveram a menina como alegre, inteligente e cheia de sonhos. “Sara Raíssa deixou uma lacuna irreparável no coração de seus familiares e amigos. Era uma criança doce, cheia de vida, que foi tragicamente levada por uma brincadeira mortal”, declarou um tio da menina.
Riscos dos “desafios virais”
O caso trágico de Sara expõe uma realidade preocupante: a influência das redes sociais na vida de crianças e adolescentes. Desafios virais como o “desafio do desodorante”, o “desafio do apagão” e outros já provocaram diversas tragédias em diferentes regiões do país e do mundo.
Especialistas em segurança digital e psicologia infantil alertam que crianças em fase escolar estão especialmente vulneráveis a esse tipo de conteúdo. Sem discernimento suficiente para avaliar os riscos, muitos encaram os desafios como brincadeiras inofensivas ou formas de alcançar popularidade entre colegas e seguidores.
“A exposição descontrolada a conteúdos perigosos nas redes sociais é uma ameaça real. Crianças nessa faixa etária precisam ser constantemente supervisionadas no ambiente digital, e as plataformas devem assumir sua parcela de responsabilidade ao permitir que esses vídeos viralizem”, afirma a psicóloga Marília Castanho, especialista em comportamento infantil.
Medidas preventivas
Após o ocorrido, órgãos de proteção à infância e à juventude reforçaram a importância do controle parental e da educação digital nas escolas e famílias. A orientação é que pais e responsáveis conversem abertamente com seus filhos sobre os riscos das redes sociais, monitorem o tipo de conteúdo acessado e estabeleçam limites de uso.
Além disso, o Ministério Público e outras entidades vêm cobrando das plataformas digitais, como o TikTok, ações mais efetivas no combate à disseminação de vídeos perigosos, com a remoção imediata de conteúdos que incentivem comportamentos de risco.
A morte de Sara não será esquecida tão cedo. A tragédia deve servir como alerta para que medidas mais rígidas sejam adotadas, tanto pelas autoridades quanto pelas empresas de tecnologia, no combate à disseminação de conteúdos prejudiciais e na proteção da vida de crianças e adolescentes.