Qual lado tem razão? Quem são os culpados pela atual convulsão política que o Brasil enfrenta?
Essas perguntas, tão comuns e presentes nos debates, revelam mais do que simples divergências ideológicas, elas escancaram a complexidade de um cenário dominado pela multiplicidade de sentidos, versões e narrativas.
A polissemia que marca a política brasileira hoje é profunda, pois não se trata apenas de um embate entre direita e esquerda, mas de uma verdadeira queda de braços que atinge toda a coletividade. Falta racionalidade e coerência na construção de uma saída, ou de um novo começo para um país que parece preso em espelhos distorcidos.
Assim, parece que a verdade foi fragmentada e jogada nas ruas como se fossem retalhos soltos de uma realidade paralela. Cada grupo agarra um pedaço e o transforma em discurso, expondo um reflexo confuso e desfocado que dificulta até mesmo o reconhecimento da própria identidade coletiva.
Nesse ambiente, os mestres da polissemia, especialistas em dar vários significados aos mesmos fatos, ocupam o centro do palco e, com muita habilidade, moldam narrativas que ganham holofotes e microfones. Alguns para preservar o que está posto e outros, para tentar subverter o que poucos compreendem por inteiro.
Desta forma, a direita segue sua jornada tentando convencer os mais vulneráveis. Já a esquerda, por sua vez, acelera o passo em busca do tom popular que a impulsionou décadas atrás. No meio desse embate, a população, sobretudo a mais carente, tenta sobreviver ao jogo político que disputa suas dores e a escassa esperança.
Polissemia pode parecer uma palavra difícil, quase inacessível, mas talvez ela seja, paradoxalmente, o retrato mais claro da nossa realidade, uma disputa confusa entre o estômago e os olhos de um povo que precisa muito mais do que múltiplas interpretações.
Polissemia, polissemântica e polissêmicos, o Brasil quer ler, entender e interpretar.