No universo do empreendedorismo feminino, onde tantas mulheres reinventam seus caminhos todos os dias, há histórias que nos atravessam de forma profunda. Histórias que misturam coragem, dor, superação e criatividade. A trajetória da Thais Bicalho é uma dessas.
Pedagoga, formada também em Administração e Marketing, atriz, arte-educadora, mediadora sistêmica e especialista em Neuroeducação e Gerência de Projetos — Ufa! —, ela transita entre o mundo da arte, da educação e da gestão com uma leveza que só quem tem os pés firmes na própria história consegue.
“Por sempre trabalhar com crianças e adultos, identifiquei que cada um tem uma forma de aprendizagem, e isso é um diferencial. Somos seres em evolução. E qual foi a forma que aprendemos as coisas na primeira infância? Através do brincar”, conta.
Thais atua com projetos personalizados em arte-educação, levando temas como educação financeira, meio ambiente, saúde e segurança para empresas, escolas e instituições públicas. O diferencial está na junção entre gestão e encantamento. Ela entende de processos, mas também entende de gente.
“Cada ação é única e exclusiva. Assim como nós. Assim como o teatro.”
Essa escuta atenta e esse olhar sensível são marcas do seu trabalho. Ao ser questionada sobre como transforma temas tão densos em experiências educativas e leves, a resposta é direta: “Os temas são trazidos pelos clientes. Eu ouço as dores e proponho algo a partir disso.” O que parece simples, na prática, exige uma bagagem emocional e técnica imensa.
O que mais me tocou em nossa conversa foi a forma como Thais enxerga a arte como caminho de cura para as mulheres. Não é sobre colocar um figurino, mas sobre se despir de amarras.
“Quando uma mulher é ferida, ela se fecha no canal vaginal. Essa região se reflete na oralidade, na expressão através da voz. Por isso, muitas mulheres se travam para falar de suas potencialidades.”
A conexão entre corpo e voz, entre trauma e expressão, é o que inspirou a criação da Oficina de Teatro para Mulheres. Um espaço seguro onde o palco se torna um território de libertação.
“Me dei conta de que o teatro tinha me ajudado ou até mesmo me salvado quando percebi, nos estudos terapêuticos, que muitos dos exercícios já faziam parte da minha vivência.”
Thaís Bicalho | Fonte: Arquivo pessoal
Como tantas mulheres empreendedoras, Thais precisou se libertar da necessidade de aprovação e de padrões impostos. Durante muito tempo, falar sobre multipotencialidade, essa capacidade de transitar por várias áreas e interesses, não era bem visto. O rótulo era duro: “não sabe o que quer”, “não para em nenhum lugar”, “faz várias coisas e não faz nada”.
“Hoje conseguimos aceitar e falar sobre as multipotencialidades. Me sinto feliz por ter me permitido vivenciá-las, mas demorei um pouco a me aceitar assim. Tinha o péssimo hábito de me medir com a régua do outro.”
No fim das contas, o que Thais nos mostra é que empreender é mais do que ter um CNPJ. É um processo interno, profundo e, muitas vezes, doloroso de autoconhecimento, cura e entrega. Especialmente para as mulheres, que ainda enfrentam muitos olhares tortos e julgamentos injustos.
“Se eu não ficar do meu lado, quem ficará? Além de Deus, é claro. Essa é a jornada da empreendedora: eu e Deus.”
Com sua fala firme e coração aberto, Thais Bicalho nos lembra que cada mulher pode, e deve, ser a protagonista da própria história. Que a arte cura. Que o brincar transforma. E que empreender, quando feito com propósito, pode ser o mais potente dos atos de amor por si mesma.